Saturday, April 29, 2006

Por eleições primárias para Reitor

Na sequência da mensagem de Licínio Lima, intitulada, «A U. M. ASSISTIRÁ NOVAMENTE À ELEIÇÃO DO REITOR», pareceu-me oportuno fazer algumas considerações e terminar com uma sugestão. Independentemente das ideias, propostas e pessoas que vierem a estar em confronto, gostaria de analisar aqui um dos aspectos trazidos a terreiro: O modelo de eleição do Reitor. O problema não poderá centra-se em termos menos democracia ou democracia "a mais", mas antes, em termos democracia, apenas. Pessoalmente, gostaria de não ser um mero espectador neste processo.

Parece evidente para todos, incluindo os candidatos de há 4 anos, que o modelo actual não é credível, nem correcto, nem democrático. Isto porque o corpo dos chamados representantes que se preparam para "eleger" o Reitor, sendo apenas formalmente legítimo, não é de facto representativo, pelo menos para esta missão. A agravar a situação, recordar-se-ão das condições, no mínimo estranhas, para não dizer de uma ética duvidosa, em que essa eleição decorreu. E não é representativo porque, entre outras razões, à data da eleição desses representantes, as envolventes da futura eleição do Reitor não eram conhecidas: nem os candidatos, os seus programas, as suas equipas. Pela parte que me toca, não me sinto representado por ninguém para este fim! Os seus votos serão, apenas e só, a expressão da sua vontade individual. Restar-me-á então assistir à eleição do Reitor?

Uma alternativa possível seria a auto-demissão desses «representantes» e, uma vez conhecidos todos os candidatos, as suas linhas de acção, os seus programas, as suas equipas, convocar novas eleições para representantes, tendo então as listas concorrentes, entre outras propostas, a oportunidade de comprometer os seus apoios... Parece razoável, mas a sua aplicação será, possivelmente, pouco (ou nada) exequível.

Finalmente faz-se uma sugestão, porventura bem mais exequível: a realização de «eleições primárias» para Reitor, de voto universal ponderado, por corpos de alunos, funcionários não docentes, docentes não-doutorados e docentes-doutorados. A expressão dessa votação um-homem-um-voto, reflectindo a real vontade da Universidade, seria então transposta num acto meramente formal, destinado a cumprir o enquadramento legal existente, para as urnas, de forma pública, onde fossem comprovadamente respeitadas pelos «representantes» as proporcionalidades encontradas no voto universal. Estou em crer que nem outra coisa poderia ser! Caso contrário apenas se constataria aquilo que agora se põe em causa: a sua duvidosa representatividade!

Saudações,
Mário Lima
http://www.dem.uminho.pt/People/mlima/

Friday, April 28, 2006

"A UM assistirá novamente à eleição do Reitor"

"Independentemente da lucidez do diagnóstico traçado por Moisés Martins no texto em que manifesta a sua intenção de se candidatar a Reitor, a verdade é que quando pretende convocar-nos, a todos, para o combate que considera urgente, por uma outra ideia de Universidade, existe uma manifesta desproporção entre o apelo à mobilização cívico-académica e os meios de participação activa ao alcance de cada um de nós.

É claro que o seu apelo não é meramente retórico e que, por diversas formas, vários têm sido aqueles que se têm recusado a alienar as suas responsabilidades académicas e ético-políticas ao longo dos últimos anos. A participação crítica e cidadã conhece certamente múltiplas formas de expressão na Universidade, no dia-a-dia do fazer académico, mesmo quando se exprime longe das grandes arenas formais, das lógicas mediáticas ou dos desejos, de resto legítimos, de protagonismo individual ou colectivo.

É porém inegável que o processo de participação na decisão, no que à eleição do Reitor se refere, se encontra profundamente amputado, transformando a maioria de docentes, estudantes e funcionários em meros espectadores da escolha realizada por uns poucos. Esta concepção de democracia demasiado formalista e procedimental agrava seguramente a já de si complexa crise de legitimidade da instituição universitária, reflectindo-se na falta de vigor da representação e da reivindicação perante o Estado e outros poderes e, talvez, na própria condição periférica que vem sendo atribuída nos últimos anos ao Conselho de Reitores.

Sabe-se que a entorse democrática ou, no mínimo, o seu carácter indirecto e mediado, bem mais típico da lógica de "contagem de espingardas" que tende a contaminar os colégios eleitorais, não constituiu opção particular dos Estatutos da UM no seu artigo 15º, onde se define a Assembleia da Universidade. Pelo contrário, foi oportunamente tentada uma alternativa mais
pioneira por Lúcio Craveiro da Silva, mas não contemplada pela Lei daAutonomia Universitária de 1988.

Não tendo, aparentemente, defensores, esta norma arrisca-se contudo à cristalização jurídico-formal, afastando quase toda a Universidade da ingerência legítima numa das decisões mais substantivas - a escolha de um programa de acção e dos respectivos protagonistas para um período de quatro anos.

Mas a incapacidade revelada pela Universidade Portuguesa no sentido de alterar a referida norma restritiva, entre outras, não deixa de ser um sinal dos tempos e do pouco apego a ideais democráticos. É, por isso, mais frequentemente visível a sua subordinação a projectos racionalistas e tecnocráticos típicos do novo gerencialismo e do admirável mundo novo da organização flexível, com a correspondente recentralização de poderes e com a emergência de novas formas de dominação. Certos tipos de informatização extensiva, por exemplo, revelam-se apurados instrumentos de vigilância e de controlo automático dos actores, em tudo contrários à liberdade académica, à responsabilidade social da Universidade e ao seu aprofundamento democrático.

No entanto, há apenas quatro anos atrás, o objectivo de alterar o modelo de eleição reitoral granjeava elevado consenso. José Manuel Vieira comprometia-se a rever os estatutos no que concerne à eleição do Reitor, pretendendo "alargar a base eleitoral para a sua escolha, contemplando medidas que reforcem o envolvimento e a participação efectiva e universal de toda a Academia" (Programa de Acção, p. 10).

Mais crítico e enfático, António Guimarães Rodrigues afirmava: "Reconhecendoque o actual modelo de eleição do Reitor oferece poucas garantias para a livre expressão e representação dos corpos da Universidade, pretende-se promover a discussão e a revisão daquele modelo, no âmbito da autonomia das Universidades" (Programa de Acção, p. 27).

Trata-se de um objectivo programático que foi diligentemente perseguido (mesmo sem a prometida discussão) mas que não foi possível cumprir, ou de um compromisso eleitoral que estará condenado ao esquecimento pelos antigos candidatos que ganham as eleições?

Em qualquer dos casos, com mais ou menos debate (o que nunca é indiferente), com maior ou menor liberdade de expressão dos diversos projectos ou pontos de vista (veremos, atentamente, como se comportarão os poderes instituídos e os sistemas de comunicação instalados, embora este mesmo texto tenha já sido recusado pela UM-net), a verdade é que a esmagadora maioria daqueles que fazem quotidianamente a Universidade do Minho continuará impossibilitada de se exprimir democraticamente através do voto, isto é, de participar activamente na escolha do futuro da sua instituição, mesmo que esse voto fosse, como no passado, objecto de distintos coeficientes de ponderação. Mas o problema é que, de acordo com a tradição portuguesa, é semprepreferível menos democracia do que democracia "a mais".

Licínio C. Lima
Prof. Catedrático

Thursday, April 27, 2006

"O compromisso que estabeleço com a Universidade"

Texto da declaração do Prof. Moisés de Lemos Martins, na sessão de apresentação à Universidade da sua candidatura ao cargo de Reitor da Universidade do Minho:


Caros docentes, funcionários e alunos,

É do vosso conhecimento que são razões cívicas e razões académicas que me decidiram a candidatar-me à Reitoria da Universidade do Minho.

Dobrada pelos ditames de um governo autoritário e amortalhada em silêncio, a nossa Universidade está hoje de ombros caídos. As expectativas que a actual Reitoria fez surgir em nós, há quatro anos, estão todas por terra. Desfez-se a equipa que então votámos. E foi mesmo um equívoco termos imaginado que estávamos perante uma equipa. O projecto desfez-se num ápice ao sofrer logo no começo uma entorse autoritária. Para um lado ficaram os senhores do Paço e para o outro a Academia. Hoje, temos uma Universidade triste, medrosa e de voz acorrentada.

Contra a cultura autoritária que a todos intimida e empobrece a Academia, é meu compromisso bater-me pela promoção de uma efectiva cultura da participação na gestão académica da Universidade, um cultura que envolva toda a comunidade académica, docentes, alunos e funcionários. Não se trata aqui de polir ou de fazer reluzir velhas palavras. O meu propósito é o de procurar criar convosco palavras novas. E é o de procurar também que nos persuadamos uns aos outros a servirmo-nos delas.

Uma Academia de cultura autoritária é sempre uma Academia empobrecida. Mas mais grave, é sobretudo uma Academia de falência pedagógica. A cultura do medo e a cultura da passividade são falências pedagógicas. E é assim que eu vejo a nossa Academia, uma Academia acossada, aflita e empobrecida, uma Academia de silêncio, com os órgãos académicos em défice democrático, onde o debate não passa de um arremedo e de uma caricatura, onde o debate não passa de um simulacro de exercício de cidadania.

Houve um tempo em que o deserto era para os leprosos, os possessos, os que mereciam castigo, os excluídos. Figurado como um lugar de tentações, o deserto era um lugar de onde dificilmente se saía com vida. Mas nos nossos dias, o deserto deslocou-se e invadiu parasitariamente as nossas vidas. E até na Universidade o deserto nos parasita a existência. Temos que contar, todavia, com o que existe e devemos procurar aí um lugar para habitar.

É possível perguntar, mas como despertar para a aventura, se o nosso tempo é hoje mais de ameaça que de esperança? Como respirar o tempo presente, se é a nossa vida toda que parece hoje incendiada em guerra e aflição?

Cada época tem de tentar de novo, tem de tentar sempre, erguer-se quando se encontra prostrada. E é porque a Universidade se instalou no fechamento de uma cultura autoritária, no conformismo de uma cultura da passividade e no ensimesmamento de práticas de mera eficiência administrativa, que é necessário questionar hoje este tranquilo silêncio. Um Senado esvaziado da sua funcionalidade, em favor de um Conselho Estratégico. Um Conselho Académico inerte, com um arremedo de debate. Um Conselho de Escolas que é mera uma caixa de ressonância da Reitoria. O silenciamento do UMjornal, um jornal premiado, que serviu de modelo para o jornal que acaba de ser lançado pela Universidade de Coimbra. A censura do debate académico na intranet…

Bem sei que somos feitos de expectativas, resistências, tradições e traições. E sei que somos também um lugar de afectos e de alianças. Mas porque é sempre de ida a nossa viagem, é na ida que está a particular fulguração da nossa vida. Ora, esta Reitoria fixou-nos num passado de práticas autoritárias. Não fazendo caminho connosco, atraiçoou a nossa confiança. E quem frustra as nossas expectativas e desmerece da nossa confiança não deve ter o seu mandato renovado.

Esta Reitoria prometeu democratizar a eleição do Reitor. Podendo fazê-lo e devendo fazê-lo, quebrou a promessa.

Lançou-nos entretanto para desafios desencontrados. Do Pacto Regional apenas lhe conhecemos o equívoco. Dos Cursos de Reconversão para jovens licenciados desempregados apenas lhe conhecemos o descabido desperdício de energia. Sem rumo, a Universidade perdeu então a reabertura do ano escolar.

Entretanto, com os projectos Sociedade de Conhecimento e Futuro 2010, do Ministério da Ciência, a Universidade voltou a ser lançada desaustinadamente para a frente, sem outro rumo que o de um enorme equívoco, nem outro resultado que o de uma hemorragia de energias em pura perda.
Com Bolonha, a Universidade viu-se também e ainda hoje se vê à deriva, tendo a Reitoria desertado da sua responsabilidade de condução do processo. E a mesma coisa aconteceu com o novo sistema de avaliação dos funcionários, o SIADAP. Eximindo-se a cumprir a sua obrigação de condução deste processo, a Reitoria permitiu que os funcionários dos serviços fossem avaliados de uma maneira e que os funcionários das Escolas fossem avaliados de modo diferente, lesando-os injustamente.
Depois, esta Reitoria tem-nos feito perder capacidade orçamental todos os anos. Da primeira vez fomos penalizados em quatrocentos mil contos por caturrice e inépcia. Da segunda vez foi por mero exercício de auto-flagelação que vimos o orçamento decrescer o equivalente à imprudente limpeza das listas dos alunos inscritos. Nos últimos anos o orçamento da Universidade do Minho tem continuado a decrescer os dois e meio por cento da ordem.

Naquilo que verdadeiramente conta, não há retorno numa vida. Só há ida. É sempre de ida o caminho que nos espera. E o que se passa com as nossas vidas, passa-se com a Universidade. Corpo que somos em viagem, estamos a caminho. E numa Universidade, somos sobretudo vivos navegantes das viagens do conhecimento. Mas como essas viagens são viagens que não acabam nunca, não podemos contentar-nos com uma ideia de Universidade que se esgote em práticas de eficiência administrativa e burocrática. Uma grande Universidade faz-se apenas com um pensamento superior.

Há momentos na vida das instituições que podem constituir-se em afluente de todas as memórias e em caminho de todos os encontros. É assim que eu penso este momento em que a Universidade se prepara para eleger um novo Reitor. Sinto, todavia, que para esta viagem nunca ninguém possui por inteiro o fogo, a água e o caminho. O momento da eleição de um Reitor deveria ser tempo de renascimento para a Universidade. Em momentos como este a Universidade deveria receber o lume e a água para o caminho. Mas são os muros do silêncio e do controlo que eu vejo erguidos na minha Universidade. Lanço-vos um repto, meus amigos. A Universidade do Minho não pode perder o desafio do seu futuro. Cabe-lhe vigiar e perseverar. E sobretudo cabe-lhe ser forte, cabe-lhe combater o bom combate, sem nunca perder a fé.

Penso que o que importa hoje à nossa Universidade é retraçar-lhe a história, reformular-lhe as funções e experimentar novas articulações. Importa hoje à Universidade repensar a sua missão.

O interesse pela singularidade, a atenção pela complexidade e a paixão pela prospectiva, é esse lugar de promessa que temos que arrancar ao deserto desta nossa existência universitária.

Caros docentes, funcionários e alunos, um Reitor não deve ser antes de mais nada um senhor do Paço, nem o gestor de uma máquina administrativa, de costas voltadas para a Academia. Deve ser sim um académico. E como académico, o Reitor deve ser um habitante do Campus universitário, deve viver e sentir os problemas e as alegrias dos docentes, os problemas e as alegrias dos alunos, os problemas e as alegrias dos funcionários. Nos tempos difíceis que são hoje os do Ensino Superior, um Reitor deve ser antes de mais nada uma voz de proximidade na comunidade académica, que lhe dê ânimo quando ela enfraquece e lhe dê esperança quando os caminhos de futuro parecem tapados.


Caso seja eleito, o compromisso que estabeleço com a Universidade para o imediato é o seguinte:

- Antes de mais nada, é meu propósito lançar e concluir logo no primeiro ano de mandato o processo de democratização da eleição do Reitor, que hoje é uma eleição legal, mas completamente imoral;

- Proponho uma presença reitoral permanente nos campi universitários de Gualtar e de Azurém. Para Azurém, proponho mesmo a presença permanente de um Vice-Reitor;

- Proponho uma Reitoria de porta aberta nos campi um dia por mês, para ouvir docentes, funcionários e alunos;

- Proponho a redignificação do Senado como órgão superior que define e estabelece a estratégia de desenvolvimento da Universidade;

- Proponho trabalhar no sentido de credibilizar o Conselho Académico, repensando com a Academia a sua constituição e o seu funcionamento;

- Proponho a criação do lugar de administrador da Universidade;

- Proponho que os campi universitários sejam espaços abertos à comunidade e que tenham vida própria para lá do horário da aulas, combatendo do mesmo passo a atmosfera deprimente que se apossa dele aos sábados de tarde e aos domingos, e também todos os dias úteis depois das vinte horas.

- Proponho a animação social e cultural dos campi. Estudarei a abertura dos campi em horário nocturno, com bibliotecas e serviço de restauração garantidos, para acolher novos projectos de ensino, quer com públicos tradicionais, quer com novos públicos.

- Trabalharei com a Associação Académica no sentido de trazer de imediato a Rádio Universitária para o Campus de Gualtar. E estudarei a cedência gratuita de estruturas instaladas nos campi, como, por exemplo, os anfiteatros, para realizações culturais propostas pela comunidade.

- Repensarei o modo de utilização dos anfiteatros para actividades académicas, alterando a estratégia mercantil e empresarial que hoje se lhes aplica.

Caros docentes, funcionários e alunos, é este o compromisso que estabeleço com a Universidade nos seus aspectos fundamentais.


27 de Abril de 2006.

As primeiras vozes...

O movimento de apoio à candidatura de Moisés Martins a Reitor da UM adquiriu visibilidade na sessão de apresentação da candidatura, que teve lugar no dia 27 de Abril, no Campus de Gualtar.
A lista dos apoiantes declarados (em constante actualização e por ordem alfabética) é a seguinte:

Apoiantes

Adriana Ferraz
Aluna ::: Economia
EEG

Adriana Oliveira
Aluna ::: Sociologia
ICS

Adriana Peixoto
Aluna ::: Administração Pública
EEG

Adriano Campos
Aluno ::: Sociologia
ICS

Aida Paula Lemos
Assistente ::: Estudos Portugueses
ILCH

Albano Serrano
Funcionário :::
Engenharia

Albertino Gonçalves
Dir. Mestrado Sociologia da Cultura
Prof. Associado com Agregação ::: Sociologia
ICS

Alberto Filipe Araújo
Dir. Departamento Pedagogia
Prof. Associado com Agregação ::: Pedagogia
IEP

Alberto Proença
Prof. Catedrático ::: Informática
Engenharia

Alex Simões
Aluno ::: Geografia e Planeamento
ICS

Alexandra Oliveira
Aluna ::: Relações Internacionais
EEG

Alexandra Queiroz
Aluna ::: Comunicação Social
ICS

Alexandra Silva
Aluna ::: Matemática e Ciências da Computação
Ciências

Almerindo Janela Afonso
Prof. Associado ::: Sociologia da Educação e Administração Educacional
IEP

Altina Ramos
Prof. Auxiliar (Eq.) ::: Ciências da Educação da Criança
IEC

Álvaro Iriarte
Pres. Conselho de Cursos Letras e Ciências Humanas
Prof. Auxiliar ::: Letras
ILCH

Amadeu Alvarenga
Prof. Auxiliar ::: Ciências da Educação Criança
IEC

Amândio Antunes Silva
Funcionário :::
SCOM

Amélia Costa
Aluna ::: Administração Pública
EEG

Américo Diogo
Prof. Associado com Agregação ::: Estudos Portugueses
ILCH

Ana Filipa Silva
Aluna ::: Química Aplicada de Materiais Plásticos
Ciências

Ana Mafalda Lourenço
Aluna ::: Sociologia
ICS

Ana Maria Ribeiro
Prof. Auxiliar ::: Estudos Portugueses
ILCH

Ana Martins
Aluna ::: Sociologia
ICS

Ana Melo
Assistente ::: Ciências da Comunicação
ICS

Ana Patrícia Teixeira
Aluna ::: Estudos Portugueses

Ana Paula Barros
Funcionária :::
IEP

Ana Paula Marques
Dir. Departamento Sociologia
Prof. Auxiliar ::: Sociologia
ICS

Ana Raquel Fernandes
Aluna ::: Comunicação Social
ICS

Ana Silva
Aluna ::: Comunicação Social
ICS

Ana Sousa
Aluna ::: Ensino Biologia Geologia
Ciências

Ana Tomás Almeida
Dir. Centro de Estudos da Criança
Prof. Associada ::: Ciências da Educação da Criança
IEC

Anabela Botelho Veloso
Dir. Núcleo Investigação Microeconomia Aplicada
Prof. Associada ::: Economia
EEG

Anabela Carvalho
Dir. Curso Comunicação Social
Prof. Auxiliar ::: Ciências da Comunicação
ICS

Anabela Fernandes
Aluna ::: Comunicação Social
ICS

Anabela Machado
Funcionária :::
IEP

Andreia Daniela Silva
Aluna ::: Engenharia Biológica
Ciências

Andreia Lobo
Aluna ::: Sociologia
ICS

Ângela Simões
Aluna ::: Relações Internacionais
EEG

Ângelo Alves
Aluno ::: Engenharia Têxtil
Engenharia

Ângelo Peres
Assistente ::: Ciências da Comunicação
ICS

Aníbal Alves
Prof. Catedrático ::: Ciências da Comunicação
ICS

António Branco da Cunha
Assistente ::: Ciências da Comunicação
ICS

António Brito
Dir. Cursos Pós-Graduação Projecto e Fabrico de Moldes
Prof. Auxiliar ::: Polímeros
Engenharia

António Ferraz
Prof. Catedrático ::: Economia

António Ovídio
Funcionário :::
ICS

António Pina
Prof. Auxiliar ::: Informática
Engenharia

António Pouzada
Prof. Catedrático ::: Polímeros
Engenharia

Armando Venâncio
Prof. Auxiliar ::: Engenharia Biológica
Engenharia

Arminda Pinheiro
Prof. Coordenadora :::
Enfermagem

Carina Fernandes
Aluna ::: Sociologia
ICS

Carla Estêvão
Aluna ::: Ensino Biologia Geologia
ICS

Carla Miranda
Aluna ::: Comunicação Social
ICS

Carla Sofia Figueiras
Aluna ::: Comunicação Social
ICS

Carlos Alberto Gomes
Prof. Auxiliar ::: Sociologia da Educação e Administração Educacional
IEP

Carlos Estêvão
Dir. Departamento Sociologia da Educação e Administração Educacional
Prof. Associado com Agregação ::: Sociologia da Educação e Administração Educacional
IEP

Carlos Filipe Cunha
Aluno ::: Relações Internacionais
EEG

Carlos Páscoa Machado
Prof. Associado ::: Economia
EEG

Carlos Silva e Costa
Aluno ::: Engenharia Civil
Engenharia

Carlos Veiga
Vice-presidente ICS
Dir. Curso Sociologia
Prof. Auxiliar ::: Sociologia
ICS

Carlota Santos
Dir. Departamento História
Prof. Auxiliar ::: História
ICS

Cátia Guimarães
Aluna ::: Sociologia
ICS

Célia Antunes
Aluna ::: Administração Pública
EEG

Célia Coelho dos Santos
Aluna ::: Sociologia
ICS

Cidália Rodrigues
Aluna ::: Comunicação Social
ICS

Cláudia Silva Costa
Aluna ::: Administração Pública
EEG

Conceição Nogueira
Prof. Auxiliar ::: Psicologia
IEP

Corália Barbosa
Funcionária :::
Ciências

Cristina Silva
Aluna ::: Administração Pública
EEG

Daniel Oliveira
Aluno ::: Informática de Gestão
Engenharia

Daniela Almeida
Aluna ::: Sociologia
ICS

Daniela Bertocchi
Mestranda ::: Ciências da Comunicação
ICS

Daniela Veloso
Aluna ::: Ensino Básico
IEC

Diana Bernardo
Aluna ::: Economia
EEG

Diogo Barbosa Martins
Aluno ::: Estudos Portugueses
ILCH

Diogo Lamela
Aluno ::: Psicologia
IEP

Edgar Cruz Gonçalves
Aluno ::: Geografia
ICS

Eduarda Coquet
Dir. Departamento Expressões Artísticas e Educação Física
Prof. Auxiliar ::: Expressões Artísticas e Educação Física
IEC

Eduarda Faria
Aluna ::: Ensino Físico-Química
Ciências

Eduardo Silva
Aluno ::: Engenharia Electrónica Industrial
Engenharia

Elsa Silva
Aluna ::: Comunicação Social
ICS

Ernesto da Silva Lopes
Funcionário :::
IEC

Estefânia Cunha
Aluna ::: Optometria e Ciências da Visão
Ciências

Estela Vieira
Funcionária :::
EEG

Estelita Vaz
Professora Catedrática ::: Matemática para a Ciência e a Tecnologia
Escola de Ciências

Eugénia Rodrigues
Assistente ::: Sociologia
ICS

Fátima Eliana Gonçalves
Aluna ::: Comunicação Social
ICS

Fátima Ferreira
Prof. Auxiliar ::: História
ICS

Felisbela Lopes
Prof. Auxiliar ::: Ciências da Comunicação
ICS

Fernando Barreiros
Aluno ::: Direito
Direito

Fernando Jesus
Funcionário :::
ICS

Fernando Moura
Aluno ::: Ensino Básico
IEC

Fernando Tavares
Prof. Auxiliar ::: Relações Internacionais e Adm. Pública
EEG

Filipa Barbosa
Aluna ::: Psicologia
IEP

Filipe Araújo
Pres. Conselho de Cursos Ciências Económicas e Empresariais
Prof. Associado ::: Relações Internacionais e Administração Pública
EEG

Flávia Cipriano Barbosa
Aluna ::: Estudos Portugueses
ILCH

Francelina Neiva
Aluna ::: Sociologia
ICS

Francisca Silva e Costa
Aluna ::: Ciências da Saúde
Ciências da Saúde

Gabriela Gama
Assistente ::: Ciências da Comunicação
ICS

Gil Sousa
Aluno ::: Engenharia Mecânica
Engenharia

Graça Simões de Carvalho
Prof. Catedrática ::: Ciências Integradas e Língua Materna
IEC

Hélder Miranda
Aluno ::: Comunicação Social
ICS

Helena Gonçalves
Assistente ::: Ciências da Comunicação
ICS

Helena Machado
Prof. Auxiliar ::: Sociologia
ICS

Helena Pires
Assistente ::: Ciências da Comunicação
ICS

Hernâni Luís Gouveia
Aluno ::: Enfermagem
Enfermagem

Hugo Barbosa
Aluno ::: Engenharia Biológica
Engenharia

Hugo Monteiro
Aluno ::: Comunicação Social
ICS

Inês Amaral
Mestranda Ciências da Comunicação
ICS

Inês Margarida Pereira
Aluna ::: Estudos Portugueses
ILCH

Ingride Martins e Sousa
Aluna ::: Sociologia
ICS

Isabel Barca
Prof. Associada ::: Metodologias da Educação
IEP

Isabel Calado Ferreira
Prof. Catedrática ::: Física
Ciências

Isabel Castro
Aluna ::: Comunicação Social
ICS

Isabel Cristina Reis
Funcionária :::
IEC

Isabel dos Guimarães Sá
Dir. Núcleo Estudos em População e Sociedade
Prof. Associada com Agregação ::: História
ICS

Isabel Marques
Aluna ::: Comunicação Social
ICS

Isabel Teles da Silva
Aluna ::: História
ICS

Ivan Vaz Pereira
Aluno ::: Matemática e Ciências da Computação
Ciências

Ivo Domingues
Dir. Mestrado Sociologia
Prof. Associado ::: Sociologia
ICS

J. Cadima Ribeiro
Dir. Núcleo Investigação Políticas Económicas
Prof. Catedrático ::: Economia
EEG

Jean-Martin Rabot
Prof. Auxiliar ::: Sociologia
ICS

Joana Andreia dos Santos
Aluna ::: Ensino Básico
IEC

Joana Miranda
Aluna ::: Ensino Biologia Geologia
Ciências

João Acácio Teixeira
Aluno ::: Engenharia Sistemas e Informática
Engenharia

João Almeida
Aluno ::: Psicologia
IEP

João Carlos Gonçalves
Mestrando ::: Ciências da Comunicação
ICS

João Ferreira
Prof. Catedrático ::: Física
Ciências

João Martinho
Aluno ::: Sociologia
ICS

João Paulo André
Prof. Auxiliar ::: Química
Ciências

João Pedro Pereira
Funcionário :::
ILCH

João Sarmento
Pres. Conselho Cursos Ciências Sociais
Prof. Auxiliar ::: Geografia
ICS

Joaquim Sá
Prof. Associado ::: Ciências Integradas e Língua Materna
IEC

Joel Felizes
Prof. Auxiliar ::: Sociologia
ICS

Jorge Gustavo Rocha
Prof. Auxiliar ::: Informática
Engenharia

Jorge Reinaldo Neves
Prof. Associado ::: Engenharia Têxtil
Engenharia

José Bernardo Barros
Dir. Departamento Informática
Prof. Associado ::: Informática
Engenharia

José Borges Almeida
Prof. Catedrático ::: Física
Ciências

José Campos
Aluno ::: Sociologia
ICS

José Carmelo
Prof. Catedrático ::: Física
Ciências

José Machado
Assistente ::: Sociologia
ICS

José Marques
Assistente ::: Filosofia e Cultura
ILCH

José Miguel Braga
Assistente ::: Ciências da Comunicação
ICS

José Oliveira Rocha
Prof. Catedrático ::: Relações Internacionais e Administração Pública
EEG

José Pinheiro Neves
Prof. Auxiliar ::: Sociologia
ICS

José Rocha
Aluno ::: Sociologia
ICS

José Vidal Santos
Aluno ::: Engenharia Mecânica
Engenharia

Juliana Rebelo
Aluna ::: Sociologia
ICS

Keisy Pacheco
Aluno ::: Sociologia
ICS

Laura Gonçalves
Aluna ::: Optometria e Ciências da Visão
Ciências

Laura Santos
Prof. Auxiliar ::: Pedagogia
IEP

Licínio Lima
Prof. Catedrático ::: Sociologia da Educação e Administração Educacional
IEP

Lígia Pinto
Prof. Associada ::: Economia
EEG

Liliana Costa
Aluna ::: Ensino Biologia Geologia
Ciências

Lourdes Mesquita
Funcionária :::
IEP

Lúcia Azevedo
Funcionária :::
ICS

Lúcia Lima Rodrigues
Dir. Departamento Gestão
Prof. Associada ::: Gestão
EEG

Luciana Queirós Silva
Aluna ::: Comunicação Social
ICS

Luís Cunha
Dir. Núcleo Estudos Antropologia
Prof. Auxiliar ::: Antropologia
ICS

Luís Leitão
Aluno ::: Engenharia Mecânica
Engenharia

Luís Soares Barbosa
Prof. Auxiliar ::: Informática
Engenharia

Luís Sousa
Aluno ::: Sociologia
ICS

Luís Valença
Aluno ::: Sociologia
ICS

Luísa Magalhães
Assistente ::: Ciências da Comunicação
ICS

Madalena Oliveira
Assistente ::: Ciências da Comunicação
ICS

Manuel Alves
Funcionário :::
BLCS

Manuel Carlos Silva
Dir. Núcleo de Estudos Sociologia
Prof. Associado com Agregação ::: Sociologia
ICS

Manuel Gama
Dir. Departamento Filosofia e Cultura
Dir. Centro de Estudos Lusíadas
Prof. Associado com Agregação ::: Filosofia e Cultura
ILCH

Manuel Herédia
Prof. Auxiliar ::: Economia
EEG

Manuel Oliveira
Aluno ::: Psicologia
IEP

Manuel Pinto
Dir. Mestrado Ciências da Comunicação
Prof. Associado ::: Ciências Comunicação
ICS

Manuel Sarmento
Prof. Associado ::: Ciências da Educação da Criança
IEC

Manuel Silva e Costa
Prof. Catedrático ::: Sociologia
ICS

Marcos Antunes
Aluno ::: Ensino Básico
IEC

Margarida Proença
Pres. Escola Economia e Gestão
Prof. Catedrática ::: Economia
EEG

Maria Aldina Marques
Prof. Auxiliar ::: Estudos Portugueses
ILCH

Maria Beatriz Pereira
Prof. Associada ::: Expressões Artísticas e Educação Física
IEC

Maria Conceição Falcão
Prof. Associada com Agregação ::: História
ICS

Maria da Conceição Costa
Funcionária :::
IEC

Maria de Fátima Ferreira
Funcionária :::
IEC

Maria Engrácia Leandro
Dir. Mestrado Sociologia da Saúde
Prof. Catedrática ::: Sociologia
ICS

Maria Helena Martinho
Assistente ::: Metodologias da Educação
IEP

Maria Helena Sousa
Prof. Associada ::: Ciências da Comunicação
ICS

Maria Irene Rodrigues
Funcionária :::
EEG

Maria Isabel Antunes
Funcionária :::
IEP

Maria Jesus M. Gomes
Prof. Associada com Agregação ::: Física
Ciências

Maria João Barbosa
Aluna ::: Psicologia
IEP

Maria João Cunha
Aluna ::: Comunicação Social
ICS

Maria José Lage
Funcionária :::
EEG

Maria José Machado
Prof. Auxiliar (Eq.) ::: Ciências da Educação da Criança
IEC

Maria José Teixeira
Aluna ::: Gestão de Empresas
EEG

Maria Penha Fernandes
Prof. Associada ::: Estudos Portugueses
ILCH

Maria Rosa Monteiro
Prof. Auxiliar :::
ILCH

Maria Teresa Costa
Funcionária :::
IEC

Maria Zara Pinto Coelho
Dir. Departamento Ciências da Comunicação
Prof. Auxiliar ::: Ciências da Comunicação
ICS

Mariana Machado Pinto
Aluna ::: Ensino Biologia Geologia
Ciências

Mário Freitas
Prof. Associado :::
IEP

Mário Lima
Prof. Associado ::: Mecânica
Engenharia

Marta Abreu
Aluna ::: Ensino Básico
IEC

Marta Caldeira
Mestranda Ciências da Comunicação
ICS

Marta Moniz
Aluna ::: Engenharia Biológica
Engenharia

Marta Rocha
Aluna ::: Economia
EEG

Marta Santos
Aluna ::: Comunicação Social
ICS

Marta Ribeiro
Aluna ::: Comunicação Social
ICS

Mauro Fernandes
Funcionário :::
SAPIA

Miguel Azevedo
Aluno ::: Sociologia
ICS

Miguel Bandeira
Prof. Auxiliar ::: Geografia
ICS

Miguel Marques
Aluno ::: Engenharia de Sistemas e Informática
Engenharia

Mónica Machado
Aluna ::: Sociologia
ICS

Natália Fernandes
Prof. Auxiliar ::: Ciências da Educação
IEC

Natália Martins Ferreira
Funcionária :::
BLCS

Natália Sousa
Aluna ::: Comunicação Social
ICS

Nelson Lima
Prof. Catedrático ::: Ciências Integradas e Língua Materna
IEC

Nuno Pinto Oliveira
Dir. Centro Estudos Direito
Prof. Auxiliar ::: Direito
Direito

Óscar Gonçalves
Prof. Catedrático ::: Psicologia
IEP

Pablo Carneiro Arija
Gabinete das Relaçoes Internacionais
Universidade da Coruña - Galiza

Patrícia Marques
Aluna ::: Comunicação Social
ICS

Paula Alexandra Guimarães
Prof. Auxiliar ::: Estudos Ingleses
ILCH

Paula Cristina Marques
Vice-presidente Instituto Estudos da Criança
Prof. Auxiliar ::: Ciências da Educação da Criança
IEC

Paula Guimarães Cunha
Aluna ::: Comunicação Social
ICS

Paula Remoaldo
Prof. Associada ::: Geografia
ICS

Paula Veiga
Prof. Auxiliar ::: Economia
EEG

Paulo Azevedo
Prof. Auxiliar ::: Informática
Engenharia

Paulo Dias
Prof. Catedrático ::: Tecnologias Educativas
IEP

Paulo Machado
Dir. Centro de Estudos de Psicologia
Prof. Catedrático ::: Psicologia
IEP

Paulo Nossa
Dir. Curso Geografia
Prof. Auxiliar ::: Geografia
ICS

Paulo Paiva
Aluno ::: Psicologia
IEP

Paulo Passos e Sá
Aluno ::: Economia
EEG

Paulo Vieira de Castro
Doutorando Ciências da Comunicação
ICS

Pedro B. Albuquerque
Prof. Auxiliar ::: Psicologia
IEP

Pedro Fula
Aluno ::: Línguas Estrangeiras Aplicadas
ILCH

Pedro Gomes
Prof. Auxiliar ::: Biologia
Ciências

Pedro Gurgel
Aluno ::: Sociologia
ICS

Pedro Martins da Silva
Aluno ::: Engenharia Sistemas e Informática
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Pedro Oliveira
Prof. Associado com Agregação ::: Produção e Sistemas
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Pedro Palhares
Prof. Auxiliar ::: Ciências Integradas e Língua Materna
IEC

Pedro Pinheiro
Aluno ::: Sociologia
ICS

Pedro Portela
Assistente ::: Ciências da Comunicação
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Prof. Associado ::: Informática
Engenharia

Pedro Romano
Aluno ::: Comunicação Social
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Aluna ::: Psicologia
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Engenharia

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Aluna ::: Relações Internacionais
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Funcionário :::
IEC

Ricardo Dias
Aluno ::: Sociologia
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Aluno ::: Sociologia
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Funcionária :::
Direito

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Funcionária :::
IEC

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Assistente ::: Ciências da Comunicação
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Sara Pereira
Prof. Auxiliar ::: Ciências Integradas e Língua Materna
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Mestrando ::: Ciências da Comunicação
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Sílvia Gomes
Aluna ::: Sociologia
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Sílvia Martins
Aluna ::: Sociologia
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Sílvia Possas
Aluna ::: Sociologia
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Tânia Esteves
Aluna ::: Administração Pública
EEG

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Telma Silva
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Teresa Ruão
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Tiago Sequeira
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Direito

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Victor Castro
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Vítor Carvalho
Aluno ::: Engenharia de Sistemas e Informática
Engenharia

Vítor Cunha
Aluno ::: Sociologia
ICS

Zélia Maia Prior
Aluna ::: Administração Pública
EEG

Saturday, April 22, 2006

Da Universidade para a Região

J. Cadima Ribeiro
Professor Catedrático de Economia

As mudanças nas hierarquias espaciais observadas desde o início dos anos 70 do século XX conduziram os investigadores da Ciência Regional a formular novas explicações para e a inquirir sobre o papel desempenhado pelo território. A pesquisa subsequente permitiu compreender que o território deveria ser considerado como um recurso específico, resultado de um processo (colectivo) de construção histórica e cultural. Em vez da ultrapassada ideia da neutralidade do espaço até então vigente, impôs-se progressivamente a noção de espaço como campo de forças onde o nível do output depende da capacidade para produzir um misto de coesão, inovação e de comportamentos estratégicos, num contexto sistémico evolutivo.

Instituições como a Universidade são vectores marcantes do campo de forças a que se alude antes. A sua importância estratégica será tanto maior quanto a instituição universitária tenda a ser vista pelas empresas e populações da região envolvente como um agente de primeira ordem da parceria mobilizável para o desenvolvimento. Um parceiro tanto mais estratégico quanto as rupturas tecnológicas e organizacionais entretanto acontecidas vêm sublinhando a importância das componente criação e partilha de conhecimentos inerentes a qualquer projecto de transformação territorial.
Quer-se com isto dizer que o conhecimento e a acção associada ao domínio do saber tecnológico e organizacional, do saber e do saber-fazer, se sugerem hoje, como nunca antes os elementos portadores da diferença, entre ganhadores e perdedores da batalha do progresso social.

Uma percepção errónea do significado e importância destes dados poderá levar a pretender que as instituições de formação superior e de investigação se constituam em centros de poder social e político, mesmo faltando aos seus intérpretes a legitimidade que resulta dos processos democráticos de escolha pública alargada. Obviamente, da sua relevância estratégica, algum poder lhes resulta mas, atentos à missão da Universidade e das instituições de investigação, cumprir-lhes-á, sobretudo, ser agentes de formação e de mudança social, ser facilitadores da comunicação entre diferentes instâncias de poder económico e deste com os poderes políticos, e ser espaços de diálogo e agitadores de novos desafios sociais.

Quando se consideram as propostas avançadas pelo actual reitor da UMinho, no início do seu mandato, de um designado “Pacto de Desenvolvimento Regional” ou, mais recentemente, de uma candidatura do Minho a “Região Europeia do Conhecimento”, é em grande medida desse mal-entendido que se trata, para além de denunciar alguma insuficiência de informação. Lamentavelmente, este laborar no erro não só inviabiliza ideias que, em si, poderiam ser portadoras de futuro (refiro-me à do pacto regional, que não à da “região” do conhecimento), como tira espaço à Instituição no seu diálogo com os demais actores sociais. Se, entretanto, nem tudo foi perdido, é porque a UMinho vai muito para além da sede de protagonismo e estreiteza de leituras do actual titular.

Da minha exposição ao mundo empresarial e político, como técnico e como académico, sou, porventura, dos que estão mais bem posicionados para perceber o universo de inibições, barreiras e complexos que têm toldado a comunicação e a efectividade da parceria para o desenvolvimento entre a Universidade do Minho e os principais actores da Região. Não tenho dúvidas de que há responsabilidades divididas tanto da UMinho, como dos empresários e dos políticos da sua envolvente regional, no insuficiente partido que o território tem tirado da Instituição. Se, pese isso embora, não se consegue pensar a presente realidade do Minho (sobretudo, do Baixo Minho) sem o contributo da sua Universidade, imagine-se o que se poderia ter alcançado e, especialmente, o que se poderá conseguir tirando pleno partido das capacidade competências científica e técnica instaladas.

Seguro que estou desse potencial, não estou menos certo de que as instituições carecem de lideranças esclarecidas. A sua ausência ou o insuficiente exercício desse papel nas organizações, quando as não levam à morte, debilitam-nas.
É também por isso que a mudança na UMinho urge.


Monday, April 17, 2006

Primeira entrevista à imprensa regional

Parte IV
Conselho de Reitores está nas mãos do governo
Ensino Superior está barricado à espera de um abanão mais forte

CM: Já escreveu que a actual reitoria caiu no equívoco de pensar que a UM pode liderar a sociedade civil. Quando fala nisso está a pensar no Pacto de Desenvolvimento Regional, que foi mais ou menos liderado pela UM?

MM: Estou a pensar em várias coisas, mas mais concretamente na ideia do Minho Região de Conhecimento. É uma ideia generosa e cheia de virtualidades, mas onde espreitam alguns equívocos. A centralidade académica são os professores, os alunos, os funcionários, os projectos pedagógicos. Claro que isto não é propriamente um convento, vive-se para fora da Universidade e inscreve-se no tecido regional. A Universidade pode ser um parceiro, mas o equívoco é pensar que a Universidade, a páginas tantas, pode ser expressão da sociedade civil, isto é, que pode liderar a sociedade civil por se imaginar que se tem um grande projecto. Mesmo que se tenha uma grande ideia, esta tem de ser acolhida pela sociedade civil e por aqueles que a representam. Liderar a sociedade civil numa Democracia não há ambiguidade possível: são os partidos e as associações cívicas.

CM: Mas o conceito de Região do Conhecimento é mais ou menos consensual na sociedade civil. O erro é a Universidade andar à frente dessa bandeira?

MM: A questão não é essa. Esta ideia deve ser partilhada pela sociedade civil, a Universidade não pode empurrar porque assim o reitor vai ser uma espécie de presidente de Câmara.

CM: Considera que foi isso que se passou com o Pacto de Desenvolvimento Regional, que deu no que deu ou no que não deu?

MM: Diz bem. No equívoco, a gente não sabe muito bem o que dá ou deixa de dar.

CM: Quer dizer que neste processo o reitor da UM se colocou na posição de um presidente de Câmara?

MM: Não há dúvidas sobre isso. Eu diria que se sobrepôs. A sua ideia contendia com a ideia de Braga Capital Europeia da Cultura.

CM: O actual reitor foi mais um actor político?

MM: Não. Eu diria que política académica é uma coisa que um reitor deve fazer. Mas quem é que pode mobilizar a sociedade civil? As ideias da Universidade podem ser propostas à sociedade civil, mas uma ideia hegemónica é um equívoco. O que temos visto nestes anos últimos é as ideias generosas da UM serem envenenadas pelo equívoco.

CM: Escreveu também sobre a necessidade de não agitar o fantasma da incompreensão do Governo e de não lamentar os azares. A UM não tem razões de queixa do poder político?

MM: Tem. A UM não pode sofrer os efeitos de uma decisão discricionária que a prejudica. Se isso acontece, o reitor não deve apenas dizer ao Governo e à Academia que está muito magoado. Esta reitoria praticou a auto-flagelação. Um exemplo: como acontece com as listas eleitorais, há muitos alunos que já não estão no activo. A lei estipula que um aluno que não paga propinas há um ano fica fora do sistema. Simplesmente, é prática corrente das universidades não os colocarem fora do sistema. Que sentido é que teve a nossa reitoria retirar 600 alunos? Apanhou o equivalente de corte financeiro. O que reconheço é que todos os anos perdemos financiamento e todos os anos a UM entende que isso é uma injustiça. Por que é que essa injustiça recai sobre a UM e não recai sobre as outras universidades? A reitoria não se afirma junto da tutela, é inábil. Por isso é que eu digo que há vitórias internas e desgraças externas. Em relação a anteriores reitores de grande expressão nacional, nós perdemos incomparavelmente.

CM: Se for eleito terá uma posição de maior firmeza perante o poder político?

MM: Trabalharei no sentido de fazer afirmar a UM como grande universidade que é no plano nacional e internacional, mas que se faz respeitar pela tutela.

CM: Como antevê a UM, passada que está a fase de grande crescimento?

UM: O momento é de consolidação. Esta reitoria tem trabalhado no sentido de internacionalizar a produção científica. Acho esta uma ideia grandiosa, mas nós nunca devemos desenvolver uma Universidade de pensamento único. A Universidade é feita da diversidade das suas escolas. Há culturas científicas diferentes. Quando se fala da cultura portuguesa e da política da língua, este trabalho científico tem que ser feito em Portugal. A afirmação internacional da investigação que se faz na UM não é necessariamente feita em Língua Inglesa. Esta ideia de diversidade deve estar presente na ideia de internacionalização da investigação universitária, e não está.

CM: Está a dizer que a reitoria não proporciona as mesmas condições a todos os investigadores?

MM: Na equipa que está a trabalhar comigo há tantas pessoas da área da Engenharia como das Ciências Sociais. O que eu estou a dizer é que há regras distintas no universo do pensamento científico. Uma grande Universidade exprime a diversidade das áreas e respeita-as. Eu tenho grandes amigos na Escola de Engenharia, como há-de ficar patente. A verdade é que esta equipa reitoral tem dois homens das Ciências Sociais e Humanas, mas eu não sei desselar enigmas. Tenho dificuldade em compreender que bons amigos, homens que conhecem as ideias e as instituições que fizeram a Europa grande podem pactuar com uma cultura autoritária. Isto para mim é um enigma que não sei desselar.

CM: EM termos de ofertas de formação, nota ainda carências na UM?

MM: Sem dúvida. Se olharmos para o figurino da Universidade do Minho, falta uma Escola de Artes. É um projecto antigo a que esta reitoria não deu expressão. Entendo que uma grande Universidade tem que se afirmar no domínio das artes. Não só nas artes tradicionais, mas também nas artes tecnológicas. Na proposta desta reitoria, a Escola de Artes lá se encontra, mas a verdade é que não fez nada para concretizar esse projecto. A minha ideia passa por aí, mas isto não é uma promessa eleitoral porque é um dossier que eu não trabalhei ainda. Bolonha devia ter servido para repensar a ideia de Universidade, a sua missão, a sua oferta educativa, que se saísse por cima de envenenamentos em que o debate se encontra dentro das escolas. As escolas têm docentes e fazem estratégias defensivas para manter os docentes que têm. Do ponto de vista da racionalidade da oferta nada se fez dentro da UM. A reitoria foi incapaz de promover um debate com as escolas para que estas saíssem do seu próprio envenenamento, do seu próprio entorpecimento. Não havendo uma ideia da reitoria, as escolas procuram apenas planos de sobrevivência. Não são planos de Bolonha, mas planos para defender os professores em risco de ficar fora do sistema por causa de Bolonha. Neste momento não se vêem os benefícios de Bolonha, só se vêem más consequências. Ora, Bolonha não poder ser isso. Há culpas das reitorias em geral, há culpas da tutela, mas eu culpo este CRUP de não ter sido capaz de fazer ouvir a sua voz.

CM: Se for eleito, a sua participação no CRUP vai ser incisiva?

MM: Naturalmente, trabalharei por um colectivo de engrandecimento e de dignificação do CRUP. Qualquer Governo não pode deixar de ter nas suas políticas para o Ensino Superior a participação do CRUP. Eu não vejo o que é que o CRUP faz na definição das estratégias para o Ensino Superior. O CRUP está nas mãos da tutela. O Ensino Superior está dentro de ameias à espera de um abanão mais forte, temendo o pior, sem estratégia e sem antecipação.

Texto: José Paulo Silva
Fotos: Rosa Santos

(publicado na edição de 13 de Abril do jornal “Correio do Minho”, página 8)

Saturday, April 15, 2006

Primeira entrevista na imprensa regional

Parte III

Apelo directo aos elementos da Assembleia da Universidade
Se as eleições fossem abertas eu teria uma maioria expressiva

CM: Tem escrito sobre “tiques censórios”, “controlo de vigilância” e de uma “máquina de propaganda”. Podemos imaginar um “big brother” na Universidade do Minho?

MM: Os avanços tecnológicos nunca têm leituras de um único sentido. O grande avanço da racionalidade administrativa trazida por esta reitoria assentou nas possibilidades das novas tecnologias. Eu adverti para alguns perigos. Nós temos uma rede interna que já funcionou como rede de debate. Esta reitoria proibiu que a rede interna funcione como fórum de discussão. Aqui não há democracia electrónica. Isso é claro. O mais grave é eu ter sabido, por despacho do reitor, que a Academia passava a ter um jornal, o “UMjornal”, e, ainda hoje, não saber, por esta reitoria, que ele acabou. A reitoria silenciou-o. Eu deveria ter sabido por despacho que o jornal acabou.

CM: Essas circunstâncias podem prejudicar a sua candidatura e o debate eleitoral?

MM: Isso não acho. A cultura autoritária é um anacronismo numa sociedade aberta e democrática. Não há o jornal da Academia, mas há muitos outros jornais. Eu estou convencido de que exprimo o sentir da Academia. Se as eleições fossem abertas, eu teria uma maioria expressiva nessas eleições.

CM: E com o actual colégio eleitoral?

MM: Eu espero convencê-los. Espero sair vitorioso. Eu não tenho um projecto de afirmação pessoal dentro da Academia. A mim importa-me como académico a promoção do debate e da cultura de participação.

CM: A sua candidatura é para levar até ao fim?

MM: Não há dúvidas sobre isso.

CM: Já tem a sua equipa formada?

MM: Tenho uma equipa a trabalhar comigo. Só muito recentemente é que me decidi levar isto por diante. Vai compreender que sobre alguns dossiers eu não me tenha instruído. Por exemplo, sobre a Quinta dos Peões ou sobre o novo Hospital.

CM: A questão dos terrenos da Quinta dos Peões foi uma prioridade desta equipa reitoral.

MM: Tal como sobre o Hospital, não sei neste momento pronunciar-me. São dossiers complexos. Em devido tempo, isso será feito. A minha grande preocupação é promover a cultura de participação. Nesse sentido estou convencido de que ganharei a Academia. Se ela fosse livre de se exprimir, a minha maioria seria expressiva. O colégio eleitoral é constituído por representantes que devem ouvir as suas bases.

CM: Esse seu discurso auto-crítico não pode ser politicamente incorrecto neste momento de disputa eleitoral para a reitoria da Universidade do Minho? Não teme ter os seus pares contra si na hora do voto?

MM: De modo nenhum. Eu não nasço como uma voz isolada da Academia.

CM: A alteração do método de eleição do reitor e o reforço do Senado serão prioridades para si, caso seja eleito?

MM: Absolutas. O Senado é o órgão superior de uma Universidade. A estratégia tem que ser traçada no Senado. Nada tenho contra a ideia do Conselho Consultivo, para melhor instrução do reitor, não para esvaziar o principal órgão académico. Sobre a eleição do eleitor, que sentido é que tem eleger um reitor sem os representantes dos projectos pedagógicos e científicos, directores de departamento, directores de cursos e directores de centros de estudos?

CM: Como vai ser a sua campanha? Já tem um blogue…

MM: Estou no começo de um combate. A campanha oficial é só a partir do dia 16 de Maio. Se a minha proposta é da participação, tem que ser capaz de demonstrar que sou um homem de cultura participativa. A minha campanha vai assentar no debate com os alunos, professores e funcionários. Tenho que os ouvir. Como eu convoco a Academia para uma ideia alternativa de governo desta Universidade, penso no tempo que resta propor algo que mobilize as pessoas. Os tempos de crise têm que ser ultrapassados com a participação das pessoas, não passando por cima delas.

CM: No entanto, tem que se sujeitar às regras do jogo. Se o colégio eleitoral é tão restrito como diz, há quase como que uma contagem de espingardas…

MM: Não farei isso. Falo para a Academia. No colégio eleitoral ninguém está lá de mote próprio. Será interessante, por exemplo, fazer uma sondagem sobre o que pensam os professores, os alunos e os funcionários das duas candidaturas.

CM: Nas eleições de há quatro anos, foi muito comentado o facto de o presidente da Associação Académica da altura ter expressado o seu apelo à candidatura do actual reitor. A questão que se colocou era se essa voz exprimia a vontade dos estudantes…

MM: Não sei. Só sei que a Assembleia são cerca de 80 pessoas que exprimem a Academia. Eu apelarei aos membros da Assembleia no sentido de que exprimam com verdade o sentir da Academia.

(continua...)

Texto: José Paulo Silva

Fotos: Rosa Santos

(publicado na edição de 13 de Abril do jornal "Correio do Minho", página 7)

Friday, April 14, 2006

Primeira entrevista na imprensa regional

Parte II
Houve ganhos de racionalidade interna
UM viu a sua expressão pública diminuir em quatro anos

CM: Quando decidiu apresentar a sua candidatura?

MM: Muito recentemente. Decidi depois da última reunião do Senado, quando se concluiu o grande processo que é a reconversão da UM ao Processo de Bolonha. Aí é que se notou uma completa ausência de estratégia colectiva, um completo afastamento desta reitoria da Academia. O afastamento da sua obrigação de conduzir a Academia. A reitoria não patrocinou um debate com as escolas. A ideia que esta reitoria pudesse ter sobre Bolonha teria que ser debatida com as escolas e assumida com as escolas. Isso não foi feito. Não tendo sido isso feito, significava que cada escola conduziria, nos termos que bem lhe parecesse, a estratégia que bem entendesse. A reitoria propôs a criação de uma “task-force” no Conselho Académico com um elemento de cada escola. Logo no Conselho de Escola eu intervim para dizer que era necessário que a reitoria tivesse um vice-reitor nessa “task-force”. Não foi nada disso que se fez. O vice-presidente do Conselho Académico, que não faz parte da reitoria, conduziu com os representantes das escolas o processo de Bolonha fora da órbita da reitoria. Quando se chegou ao Conselho Académico, a reitoria fez vencer a sua voz de uma maneira completamente arbitrária. Pode-se dizer que foi votada a decisão do reitor. Aí está: quanto mais alargado é um órgão, mais irresponsável ele é. O reitor foi ao Conselho Académico impor uma ordem de trabalhos. Aquilo que estava na agenda passaria, com mais voto contra ou mais abstenção.

CM: Mas o que é que está mal nesta adaptação da UM a Bolonha?

MM: Bolonha significa a construção de um espaço comum na Europa para o Ensino Superior. Bolonha é a articulação de três ciclos de estudos: licenciatura, mestrado e doutoramento. As boas universidades devem ter os três ciclos. Bolonha é sobretudo uma alteração das práticas pedagógicas. As escolas não foram chamadas para este debate e as propostas aprovadas diria que quase nada têm a ver com a cultura de Bolonha, são afunilamentos. Esta discussão estava envenenada pela circunstância de se ligar isto ao financiamento. Claro que cursos de cinco anos que passam para três ou quatro não precisarão de ter tantos professores, é um benefício para o Ministério porque passa a pagar menos. Porque é que os reitores não tomaram posição pública sobre a necessidade de financiamento a dois ciclos? Desenvolve-se de há uns anos a esta parte a ideologia social de que há áreas académicas de importância social superior.

CM: Por isso defende que as escolas devem estar todas no mesmo plano e que não deve haver prioridades académicas e sociais?

MM: Digo isso porque há a definição, que já vem de governos anteriores, de áreas estratégicas. De uma maneira geral, as ciências e as tecnologias, o que quer dizer as engenharias e algumas ciências naturais.

CM: Essa ideologia também se verifica na Universidade do Minho?

MM: Sim. Que um qualquer governo possa definir essas políticas, eu entendo. Um académico só pode contrariar isto. Um académico tem que ter esta ideia: as áreas científicas são todas prioritárias, têm todas a mesma dignidade e a mesma importância social. Há muita coisa no Processo de Bolonha que está mal. Os reitores alhearam-se das suas responsabilidades ao não terem tomado uma posição no sentido de dizerem que o 1º e o 2º ciclos têm que ser financiados. De há anos a esta parte, o Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP) está esvaziado, não tem uma política que se afirme diante da tutela. Não afirma nada de útil como ideia geral das universidades. O CRUP não existe publicamente. As universidades não têm uma voz colectiva. O CRUP não ajuda a tutela a fazer políticas. Um reitor como o nosso caiu como mel na sopa daqueles que pensam que uma política de esvaziamento do CRUP é coisa boa.

CM: Com Bolonha, a área das Ciências Sociais fica com um nível de prioridades ainda mais baixo?

MM: Não diria isso. Isto não é uma candidatura das Ciências Sociais à reitoria da UM.

CM: Não é uma luta das Ciências Sociais contra os engenheiros?

MM: Nada disso. Esta é uma luta que qualquer engenheiro pode compreender, qualquer homem das ciências da natureza pode compreender. Vai ver, em devido tempo, como isto é assim mesmo. Isto é uma ideia de Academia, de centralidade académica. A Academia tem de ter um projecto que exprima a diversidade das suas escolas.

CM: A ausência desse projecto reflecte-se em quê? Em termos de financiamento?

MM: Naturalmente. Progrediu-se muito com este reitor no que diz respeito à operacionalidade de uma máquina, fizeram-se progressos enormes em termos administrativos. Mas qualquer progresso, se não se ganham as pessoas, é um progresso equivocado. Houve uma medida que foi a medida biométrica da assiduidade dos funcionários. Eu diria que é uma grande medida, mas que teve um péssimo acolhimento entre os funcionários. Uma organização tem de ser estimulada e sentir isto como uma coisa sua, mas anda-se sempre de ombros caídos porque submetidos a ordens. Acontece com os órgãos das escolas, com os funcionários e também com o processo de Bolonha, com os alunos. Por exemplo, a transição para Bolonha. A lei obriga que ciclo antigo e o novo modelo só possam coexistir num máximo de dois anos. Ora, a UM não se preparou para isso. Há um grande descontentamento entre os alunos. A transição tem que se fazer sempre em benefício dos alunos. Esse assunto não foi suficientemente cuidado porque a ideia de não aprovar segundos ciclos é mutilante para as escolas que os apresentaram. Na medida em que se puseram a funcionar primeiros ciclos, politecnicizou-se a Universidade, menos as Engenharias e a Arquitectura, que ficaram com 1º e 2º ciclos que eles chamam integrados. Não entendo por que é que a reitoria não fez esta prática com toda a Universidade.

CM: No caso da sua Escola, a reitoria não aceitou sugestões?

MM: Não queria falar da minha Escola, porque este não é um assunto meu, é um assunto da Academia. Este não foi um problema que recaiu exclusivamente sobre as Ciências Sociais.

CM: Caso seja eleito, pensa ser possível reverter o Processo de Bolonha?

MM: Naturalmente, Bolonha é um processo cumprido em 2010. Não temos muita margem porque já perdemos muito tempo. E sabe que uma coisa que nasce mal é ruim de consertar. Em todo o caso, com alunos e professores, haverá que encontrar as soluções que, de alguma maneira, abram a UM a Bolonha. Não de uma forma reactiva, porque o debate sobre Bolonha está um pouco envenenado por causa do financiamento.

CM: Mas as universidades não estão presas a essa questão?

MM: Mas o CRUP tem que ter uma voz, mas uma voz que se faz da voz dos seus elementos. Eu nunca ouvi este reitor com uma posição política forte. Em quatro anos, a UM ganhou racionalidade interna e viu a sua expressão pública diminuir. Junto da tutela, a UM perdeu força e influência, não se soube afirmar.

(continua...)

Texto: José Paulo Silva
Fotos: Rosa Santos

(publicado na edição de 13 de Abril do "Correio do Minho" - página 6)

Thursday, April 13, 2006

Primeira entrevista à imprensa regional

Parte I
Moisés Martins, candidato a reitor da Universidade do Minho
Esta reitoria pratica a auto-flagelação


Apoiou Guimarães Rodrigues há quatro anos, mas acusa agora o reitor da Universidade do Minho de autoritarismo e de não ter conseguido afirmar externamente a instituição. O sociólogo Moisés Martins, na primeira grande entrevista após ter anunciado a sua candidatura à reitoria, acusa a ausência de debate no Senado e no Conselho Académico.
Moisés Martins critica a actual equipa reitoral por não ter cumprido a promessa de democratizar a eleição do reitor. Assume agora que se as eleições do dia 31 de Maio “fossem abertas”, garantia uma maioria expressiva. Diz que à Universidade do Minho falta ainda uma Escola de Artes e recusa protagonizar uma contenda entre as Ciências Sociais e as Engenharias. Caso seja eleito, Moisés Martins promete ter uma participação mais incisiva no Conselho de Reitores, órgão que considera estar nas mãos da tutela governativa.

Correio do Minho: Justificou a sua candidatura a reitor da Universidade do Minho (UM) com a necessidade de um sobressalto académico e cívico. Tendo em conta que até há bem pouco tempo se perspectivava uma candidatura única, acha que já cumpriu esse objectivo?

Moisés Martins: Não. Na tradição da Universidade portuguesa, é normal que o reitor que concorre ao segundo mandato tenha o consenso da sua Académica, que concorra sem oposição interna. Acontece que o consenso há que o merecer, não há consenso que não seja pelo debate. De facto, esta reitoria exprime um grande enviesamento autoritário da instituição.

CM: Ficou surpreendido com essa situação, uma vez que apoiou o actual reitor há quatro anos?

MM: Apoiei o professor Guimarães Rodrigues porque a equipa por ele liderada e o programa por ele apresentado levantaram muitas expectativas, mobilizaram muito a Academia. Foram as ideias que aquela equipa corporizava que ganhou a Academia. Eram ideias de uma cultura participativa. Ora, a prática significou um enviesamento total.

CM: Como se revela isso na prática?

MM: Podia começar por dizer essa coisa curiosa: a última proposta do programa de Guimarães Rodrigues era a democratização da eleição do reitor. A UM tem 15 mil estudantes, cerca de 1500 professores, 700 ou 800 funcionários, e são cerca de 80 pessoas de um colégio restrito de representantes que votam o reitor. Veja que até os partidos políticos do poder fazem “directas”.

CM: Defende um modelo semelhante para a eleição do reitor?

MM: Não digo isso. O que quero dizer é que democratizar a eleição do reitor significa fazer participar mais os interesses académicos, pedagógicos e científicos. Fazê-los exprimir numa assembleia.

CM: Alargar a assembleia eleitoral?

MM: Tal e qual. A verdade é que esta reitoria ainda constituiu uma comissão para a reforma dos estatutos, mas que não se pronunciou sequer sobre a eleição do reitor. Este é um primeiro aspecto que tem a ver com promessas, com o levantamento de expectativas, com a mobilização de vontades. Mas, concretamente, como é que se verifica o enviesamento autoritário da instituição? Vamos falar do órgão principal da Universidade que é o Senado. O Senado define as linhas estratégicas de desenvolvimento da Universidade. Acontece que esse órgão foi completamente esvaziado de funcionalidade pela criação de um Conselho Estratégico. Posso dizer que não tem mal que um reitor se abra para fora da Universidade e se crie um Conselho Estratégico, qualquer escola da Universidade do Minho pode fazer isso, mas converter o Conselho Estratégico em órgão directivo, isso é que não. Neste momento, no Senado, não se discute nada. O facto de se reunirem os órgãos não significa que se promova uma cultura de participação, uma cultura de debate. No Senado, comunicam-se disposições. Veja um órgão que não é estatutário, mas que era a primeira proposta desta reitoria: um Conselho de Escolas. Foi criado, mas foi completamente enviesado. Seria para auscultar as escolas, mas a lógica é completamente outra: o reitor comunica as suas decisões e entra-se em diapasão, em caixa de ressonância. Um presidente de Escola não participa na definição da agenda. Quando os presidentes de Escolas perceberam que não era assim que o Conselho devia funcionar, pronunciaram-se por duas vezes no sentido de intervir no processo, mas não tiveram eco nenhum.

CM: É uma voz isolada nestas críticas?

MM: Não. Qualquer presidente de Escola lhe dirá que não há uma efectiva participação no debate académico, que o Senado não tem as funções que deveria ter, que o Conselho de Escolas não funciona como deveria funcionar. Veja o caso do Conselho Académico: é um órgão enorme com dezenas largas de pessoas, com muitos alunos. O seu equilíbrio difícil foi conseguido no passado, agora não porque quanto maior é um órgão, mais propício é a que possa ser utilizado de uma forma autoritária. Tal como no passado um bispo se tomava pela Igreja, assim aqui o reitor se pode tomar pela Universidade. O Conselho Académico significa o grau zero do debate académico.

CM: Essa postura autoritária que diz existir na actual equipa reitoral manifestou-se quando?

MM: Eu e muita gente começou a notá-la quase no momento da tomada de posse. O programa eleitoral de Guimarães Rodrigues não era a proposta de um homem, era a de uma equipa. Muito depressa se soube que essa equipa não funcionava. Essa equipa era o reitor e mais dois e depois passou o reitor e mais um. A equipa não se reunia.

CM: Quando diz “o reitor e mais um” está a falar de quem?

MM: Prefiro dizer assim. Dizer assim é suficiente. Todos os sinais públicos foram no sentido de nunca ter funcionado a equipa. Isso foi uma prática que o coordenador da equipa impôs. Por isso é que eu digo, no meu manifesto, que é uma prática de rolo compressor. Os sinais de mau estar começaram logo no interior da própria equipa. A cultura participativa foi só em campanha. Ao fim de um ano saiu um vice-reitor, passado mais um tempo saiu um segundo. A questão foi sempre a mesma: falta de debate. É público que fui apoiante desta equipa por causa das ideias, por causa do projecto que era de participação. A primeira proposta, a do Conselho de Escolas, é um equívoco; a última proposta não é um equívoco, é uma coisa pior, é uma falta clara a uma promessa: a de democratizar a eleição do reitor.
(continua…)

Texto: José Paulo Silva
Fotos: Rosa Santos


(publicado na edição de 13 de Abril do "Correio do Minho", página 4)



Wednesday, April 12, 2006

Quem é Moisés de Lemos Martins

Presidente do Instituto de Ciências Sociais desde Janeiro de 2004, Moisés de Lemos Martins é Professor Catedrático de nomeação definitiva da Universidade do Minho desde 1998, trabalhando sobretudo nos domínios da Semiótica e da Sociologia da Cultura. Foi o Director do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (CECS), desde a sua fundação, em 2002, até Julho de 2006, e é director da revista científica “Comunicação e Sociedade” desde 1999.

Tendo feito a sua formação académica de licenciatura, mestrado e doutoramento em Sociologia, em Estrasburgo, o percurso como docente e investigador levou Moisés de Lemos Martins a trabalhar, na Universidade Católica Portuguesa (instituição que já havia frequentado como estudante e de que fora presidente da respectiva Associação Académica). Seguiu-se a Universidade da Beira Interior, onde coordenou o Departamento de Ciências Sociais, foi Director do Curso de Sociologia, criou a licenciatura de Ciências da Comunicação e fundou a revista de Ciências Sociais “Anais Universitários”, da qual foi o primeiro Director.

Foi um dos fundadores da Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação (Sopcom), em 1997, exercendo desde o início funções dirigentes que culminaram, em 2005, na sua eleição para presidente. Participou na organização dos os seus cinco Congressos, tendo presidido ao V, que se realizou em Setembro de 2007, na Universidade do Minho.

A experiência internacional de Moisés de Lemos Martins é vasta: foi fundador da Lusocom (Federação Lusófona de Ciências da Comunicação), que agrupa as associações científicas das Ciências da Comunicação dos países de expressão oficial portuguesa, exercendo, neste momento, funções de Direcção. Nesse âmbito presidiu ao III Encontro Lusocom, que se realizou na Universidade do Minho, em Outubro de 1999, tendo estado na Comissão Científica e/ou na Comissão Organizadora de todos os outros: Lisboa (1997); Sergipe (1998); S. Vicente (2000); Maputo (2002); Covilhã (2004); e Santiago de Compostela (2006). Tem participado na Organização dos Congressos Ibéricos de Ciências da Comunicação, organizados pela Sopcom, em parceria com a comissão de decanos espanhóis desta área científica (Málaga, 2002, Covilhã, 2004, Sevilha, 2006, tendo co-presidido a este último). Ao mesmo tempo, tem vindo a protagonizar um vasto programa de colaboração que junta, em parceria, três universidades - a do Minho, a Nova de Lisboa e a da Sorbonne - em torno da temática da “tecnologia e figurações do humano”.

Moisés de Lemos Martins é autor de vários livros e de numerosos capítulos e artigos científicos publicados em Portugal e no estrangeiro. Dos seus livros destaca-se:

Reinventar a Universidade

Óscar F. Gonçalves
Professor Catedrático do Instituto de Educação e Psicologia


A Revolução Francesa e o movimento romântico inauguraram uma era no decurso da qual acabámos gradualmente por apreciar o papel histórico da inovação linguística (...). Precisamos de uma redescrição do liberalismo, segundo o qual este seja a esperança de a cultura no seu todo poder ser "poetizada".

Richard Rorty



Estávamos na primavera de 1988 e vivia eu então os encantamentos de jovem professor na Universidade da Califórnia em Santa Barbara. Sentia-me eu na altura uma espécie de refugiado do sistema universitário português onde proliferavam o autoritarismo e a conflitualidade. Nesse dia compartilhava o almoço com um jovem psiquiatra romano em pós-doutoramento no meu departamento quando se acercou de nós uma estudante italiana atraída pelo sotaque solidário do seu patrício. Como sempre acontece nestas situações de encontro de navegadores do conhecimento a pergunta sacramental não se fez esperar: "O que fazes por aqui?", perguntou a jovem. Fez-se um silêncio entrecortado pelo chilrear harmónico dos pássaros, o meu amigo aspirou o ar morno do Pacífico, contemplou o infinito e respondeu com o carregado ênfase da expressividade de um romano: "Sou um livre pensador!". Estas palavras tocaram-me a ponto de, por instantes, sentir a visão turva pela simpatia de experimentar também, naquele momento e naquele lugar, um sentimento profundo de liberdade, mas também da maior igualdade e fraternidade com os habitantes daquele campus plantado entre os penhascos do pacífico e as montanhas circundadas por aquilo que os autóctones apropriadamente designaram "caminho do céu". Recordo-me de ter sentido que o meu parco salário era largamente compensado por me proporcionar, no aqui e agora, a vivência do ideário da Revolução Francesa: liberdade, igualdade, fraternidade.

Infelizmente este idílio não durou muito e o vislumbrar episódico da utopia libertária foi bruscamente interrompido pela convocatória para o serviço militar. Confesso que cheguei por momentos a alimentar a ideia de juntar ao exílio intelectual a condição de refractário militar, assumindo então, quem sabe se para o resto dos meus dias, o verdadeiro e materializado estatuto de exilado. Por razões que eu próprio tenho ainda dificuldade em entender, não o fiz e em Agosto, depois desta fugaz experiência de alforria, era trincafiado no quartel de Tavira. O contraste não podia ser maior: a liberdade dava lugar ao encarceramento e a igualdade à humilhação, restando-nos unicamente a fraternidade clandestina típica entre os desvalidos do poder.

Alguns meses depois a universidade portuguesa resgatava-me ao quartel e apresentava-me eu de novo ao serviço da academia com uma "guia da marcha" (sic) que literalmente me ordenava a apresentar nas "fileiras da universidade" (sic). O presidente do conselho directivo recebeu-me com posturas de general e eu perfilei-me em sentido a aguardar a distribuição do mister. O pré de miséria era agora um salário aceitável, mas a linguagem que configurava a orgânica institucional não diferia significativamente daquele que me oprimia na caserna. Os jogos da linguagem eram os mesmos: a compartimentação dos pelotões e das armas era agora substituída pela compartimentação dos departamentos e dos saberes; a hierarquia dos postos militares dava agora lugar à hierarquia da carreira docente; o provincianismo patrioteiro ao provincianismo das faculdades.

Preocupa-me que grande parte da discussão que se gera em torno da necessidade de uma reforma universitária, aliás unanimemente reconhecida, se prenda com questões meramente acessórias ou mesmo circunstanciais. A transformação da universidade impõe a necessidade de construir para as raízes da sua fundamentação uma nova linguagem de modo a proporcionar aquilo que Rorty definiu como a reinvenção de uma nova utopia capaz de materializar no espaço universitário o ideário da liberdade, igualdade e fraternidade. Um novo vocabulário que assegure à universidade a sua condição de espaço livre para a criação do conhecimento e construção social.

1.
Em primeiro lugar, o conceito de compartimentação terá que ser substituído pelo de transversalidade. A compartimentação é herdeira da tradição modernista de departamentalização dos saberes, um modo escorreito de arrumar pessoas e conhecimentos e assim assegurar a necessária corporativização da sociedade. Resulta daqui a divisão do conhecimento, a divisão do trabalho, a divisão dos territórios, a divisão das raças e toda a panóplia de atitudes xenófobas que este processo de diástase alimentam. Por exemplo, um caso real (ainda que raramente frequente) de um professor universitário que fez a sua formação inicial em filosofia, depois licenciou-se em medicina tendo-se mais tarde doutorado em psicologia, é um espécime que jamais sobreviverá competitivamente no espaço de saberes universitários bem compartimentados, alguém demasiado próximo da ascendência enciclopedista e incapaz de se adaptar aos ditames do aforismo como domina o modernismo universitário: "saber cada vez mais de cada vez menos até que se saiba tudo de absolutamente nada". O professor emancipa-se, neste contexto, pela fronteira limitada do seu saber e não pela sua tranversalidade. Associado a este facto cria-se um fenómeno de curiosa reprodução da compartimentação. A sobrevivência desta forma compartimentada de construir conhecimento obriga à multiplicação desmesurada de departamentos. Estes departamentos inseminam planos de estudos de licenciaturas ou mestrados de espectro ridiculamente estreito cuja função é unicamente a sacralização de um microsaber. O conceito de transversalidade obrigaria a impor limites a este reprodução geométrica de saberes e departamentos facilitando, promovendo e gratificando, para docentes e discentes, a circum-navegação do conhecimento através de uma diversidade de arranjos indisciplinados. Talvez assim um engenheiro do futuro acabasse por saber escrever e um escritor dos tempos vindouros percebesse alguns aspectos básicos da termodinâmica.

2.
Em segundo lugar, o pilar da hierarquização terá que dar lugar ao da horizontalidade. Com efeito a organização das universidade portuguesas faz lembrar o sistema de organização social que alguns etologistas descrevem nos galináceos com a curiosa designação de "ordem da bicada". Sempre que um grupo destes animais se encontra dispara um intensivo jogo de bicadas entre os seus membros até que esteja finalmente estabelecida uma hierarquia, saber quem bica em quem. O sistema de organização social nas nossas universidades não seria significativamente distinto não fosse a ordem da bicada estar institucionalmente definida à partida pelo código linguístico do estatuto da carreira docente: o professor auxiliar bica no pobre assistente (que é aliás o único que só é bicado); o professor associado bica no professor auxiliar e no assistente; finalmente, o professor catedrático bica em todos. É óbvio que esta configuração hierárquica impõe fortes constrangimentos à natural necessidade de autonomia e liberdade indispensáveis para o processo criativo de construção de conhecimento. O problema é agravado pelo facto de só alguns ascenderem, em virtude da natureza piramidal da carreira, à condição de "bicador" ex catedra. Talvez se o princípio fosse o da horizontalidade, com os correspondentes sentimentos de autonomia e liberdade, não houvesse essa competição tão desenfreada por ascender à condição seguinte. A condição de autonomia e liberdade, o direito à não vassalagem, deveria ser independe da posição na carreira e qualquer docente ou investigador universitário deveria, pelo menos a partir do seu doutoramento, ter todas os deveres e prerrogativas de um agente sénior da investigação e docência. A noção de horizontalidade implicaria, claro está, que todos tivessem potencialmente acesso a todos os lugares da carreira, limitados unicamente pelo seu mérito científico e pedagógico e não por circunstâncias da antiguidade ou de política institucional de manutenção do poder.

3.
Em terceiro lugar a camisa de forças de um protótipo de universitário terá que ser substituída pela assunção da multiplicidade, isto é, o reconhecimento de que há vários modos de estar na academia e de que é desta diversidade que se enriquece o serviço académico. De um modo mais ou menos velado circula no claustro universitário a configuração de um protótipo que é exemplarmente captado pelo adágio de inspiração norte-americana "publicas ou pereces", ou como alguns fazem questão de glosar "publicas e pereces", uma vez que a tarefa de publicar a todo o preço se mostra inglória e, mais tarde ou mais cedo, tudo aquilo que somos e produzimos acabará como minério da existência. Vivem hoje os universitários perseguidos pela inspecção aturada e contabilistica da sua produção científica: número de artigos; número de artigos multiplicado pelo índice de impacto da revista; número de citações, etc., etc. Escravos desta prototipia os professores fecham-se nos gabinetes escrevendo, cada vez mais e cada vez mais rápido; fecham-se horas sem fim na clausura dos seus laboratórios na vertigem da produção de dados. Os alunos, esses, acabam por se transformar num mero epifenómeno da universidade, ou quanto muito no caso do estudante graduado, um instrumento nesta bem oleada cadeia de produção científica. Ignora-se assim que ser professor, passar horas de dedicação aos alunos e ao ensino é talvez a forma mais nobre de construir conhecimento, torná-lo universal, dar-lhe um sentido comum, torná-lo reprodutível. É claro que isto não se contabiliza em termos de número de artigos e é dificilmente mensurável no imediatismo mercantilista em que se transformou a avaliação da actividade do professor.

4.
Finalmente um quarto e último aspecto, a clausura provinciana terá que ser substituída pela mobilidade. As universidades portuguesas são hoje a mais clara ilustração do provincianismo que assola a generalidade das nossas instituições. Na sua generalidade os assistentes estagiários são recrutados entre os licenciados da própria universidade, os assistentes entre os assistentes estagiários que nessa universidade completaram o seu mestrado, os professores auxiliares entre os assistentes que aí fizeram o doutoramento e excepcionais são os casos em que num concurso para professor associado ou catedrático é colocado um professor proveniente de outra universidade. É tudo gente do mesmo bairro e, se possível, da mesma rua. O interessante é que nem por isso os laços de solidária amizade se criam. Cria-se, isso sim, um perverso efeito de consanguinidade e dependência onde vão proliferando diferentes ramos familiares cada vez mais fechados sobre si. O sistema fecha-se sobre si mesmo e o conhecimento deixa de ser pensado universal e globalmente. A vocação universalista da academia obrigará a incentivação de um sistema de mobilidade generalizada, privilegiando a fertilização cruzada entre diferentes instituições, através de incentivos à mobilidade de professores e estudantes entre universidades nacionais e estrangeiras. Não deixa de ser curioso notar que a política sugerida pelo conselho de reitores vai no sentido diametralmente oposto. Incapazes de controlar o fenómeno dos "turbo professores" foi instituído um sistema de pagamento entre universidades para serviços prestados pelo professor alienígena que são verdadeiras coimas para a mobilidade dos docentes. Um desafio muito mais criativo seria o de instituir e socializar esta mobilidade, mas isso implicaria um novo modo de pensar a universidade.

Em suma, reinventar a universidade implicará necessariamente reconstruí-la como espaço de liberdade, igualdade e fraternidade e isso, como sugeria Rorty, obrigará à criação de uma nova linguagem, uma linguagem em que os conceitos de transversalidade, horizontalidade, multiplicidade e mobilidade se assumam como os pilares de uma nova arcádia.

Monday, April 03, 2006

"Universidade e Melancolia"

(Texto produzido por Moisés L. Martins em Maio de 2002)


1. O espírito de modernidade

Ao abandonarmos hoje a logosfera pela porta da electrónica e dos hipermédia, configurando uma sociedade do conhecimento universal, a ser instaurada pelas novas tecnologias da informação, é de um sonho antigo que falamos, o sonho que fez a modernidade. Mas não podemos deixar de pensar no que foi feito deste sonho – um sonho que com o tempo se converteu em assombração. É verdade, o sonho de modernidade desorbitou e nos nossos dias passou a esgazear-nos.

O espírito que anima este novo mundo da “sociedade da comunicação generalizada” (Vattimo, 1991: 12) - o nosso mundo - é, sem mais, o mesmo espírito que na Idade Média propulsa as universidades e que nos séculos XVII e XVIII anima o paradigma científico (Fidalgo, 1996: 37-47). Dir-se-á que o espírito de modernidade irradia hoje por todo o universo como uma bem-aventurança, ao ser soprado pelos novos meios de comunicação e de informação. As novas tecnologias da informação projectariam numa escala global o espírito da circulação de ideias, saberes e pessoas, o espírito totalmente livre, que universaliza o conhecimento. Mas pode dizer-se, igualmente, que era já esse mesmo espírito que corria livremente nas universidades medievais e nas academias do iluminismo. Estamos a falar de um mesmo espírito de modernidade, um espírito animado por uma mesma ideia de tempo histórico, um tempo comandado pelo princípio escatológico

O espírito da modernidade é, pois, a historicidade; e a escatologia, que comanda esta ideia de um tempo histórico, é a razão da esperança. Dando conta da experiência de um sujeito diminuído pela imperfeição e pela insuficiência, a escatologia profetiza, todavia, que uma tal experiência acabará no final dos tempos, com o regresso à casa do Pai, ao significante pleno, sendo o mal superado e a morte destruída.

A história da modernidade é a história do cristianismo, uma vez que é no cristianismo que encontramos a origem do pensamento escatológico. O imaginário moderno do tempo é, com efeito, fundado pela utopia cristã, uma esperança tornada possível pela princípio escatológico, tornada possível pela ideia de emancipação, superação e redenção. A razão moderna, razão escatológica, realiza-se na experiência de um dia termos pecado e na esperança de virmos a ser libertados, qualquer que seja a nossa condição, homem livre, escravo, mulher, estrangeiro, emigrante. O exercício moderno da razão tem no perdão a sua ética (2)Pode parecer excessivamente cristã esta caracterização da historicidade. Mas o que é um facto é que a modernidade laica mantém este dispositivo temporal, o de “uma grande narrativa” (Lyotard, 1979) que promete a reconciliação do sujeito consigo mesmo e com o seu semelhante. O Iluminismo, o Romantismo, o Marxismo, e hoje a Cibercultura, têm o mesmo conceito de historicidade que o Cristianismo. Laicizaram, é certo, o princípio escatológico, mas mantiveram-no. Em todas estas “grandes narrativas” um mito das origens estabelece a história sobre um passado imemorial. E a relação plena e inteira sonhada no começo constitui-se como a promessa de um fim último. O imaginário moderno vive neste círculo hermenêutico: projecta a sua legitimidade para diante, mas funda-a numa origem perdida. Neste sentido, a escatologia, que nos promete a redenção, vai a par da arqueologia, que nos garante um regresso à casa paterna.

Estou a pensar na lei de Deus do paraíso cristão, e também na lei da Natureza do direito natural fantasmado por Rousseau, e ainda na sociedade sem classes imaginada por Engels no princípio dos tempos, antes da família, da propriedade privada e do Estado. Estou finalmente a pensar naquilo que na Cibercultura ressoa a Jardim do Éden e a Torre de Babel, quero dizer, a árvore do conhecimento universal e a comunicação universal desse mesmo conhecimento.

2. A esperança universitária e o seu abastardamento

Sonhando com a universalização do conhecimento, e também com a universalização da comunidade científica, o imaginário universitário foi um imaginário moderno desde a sua origem medieval. As figuras que desde o início mobilizam a universidade são as figuras de emancipação e de superação histórica. Ao sonhar com a universalização do conhecimento, e também com a universalização da sua transmissão, a universidade apresenta-se-nos assim, logo na origem, como uma forma escatológica, uma forma utópica e esperançosa de encarar o tempo.

O sonho que a Universidade configura no século XIII supõe que a vida dos homens se organize como uma história de sentido, realizando a promessa da relação plena e inteira que havia sido sonhada num começo imemorial. Nesse tempo de catedrais, com longilíneas agulhas de pedra a demandarem os céus, a cultura era toda a verdade da Universidade. Hoje, no entanto, quem é que pede cultura ao ensino e à investigação? Exige-se-lhes qualidade, e quer-se que toda a qualidade seja de utilidade. Ensino e ciência que não sejam úteis parecem definitivamente condenados. De um ponto de vista ético, é sem dúvida uma alteração considerável.

Na sociedade da informação que é a nossa, a Universidade age, de facto, cada vez mais, como um qualquer meio de comunicação social. Também para a imprensa houve um tempo em que a veracidade de uma notícia era todo o seu valor. Hoje, todavia, o chefe de redacção ou o director de um jornal já não exigem que uma informação seja verdadeira. Querem é que ela seja interessante. Se não for interessante, não é útil. E se não tem utilidade, não vale a pena publicá-la.

Vivemos um tempo em que só parece justificável socialmente aquilo que é eficaz, aquilo que é instrumental, aquilo que, numa palavra, serve os desígnios de uma razão pragmática. Toda a gente sofre hoje desta convicção generalizada de ter direito a tudo: ao respeito, à expressão, ao diploma, ao emprego, ao êxito social. E é à Escola, designadamente à Universidade, que é cometida a tarefa de travar esta luta, e de assim garantir a realização deste sonho: uma promessa de sucesso, sendo todo o sucesso ganhar, e ganhar sempre.

Para dar conta do seu comportamento no mercado, para dar conta da sua eficácia, o ensino superior entendeu mergulhar em intrincados processos de auto-avaliação, interna e externa. Aos cursos pergunta-lhes insistentemente pelo destino dos seus licenciados. Aos docentes obriga-os, de forma organizada e sistemática, a dar conta de um sem número de empecilhos académicos, que a supervisão pedagógica justifica. Aos investigadores impõe-lhes uma taxa de produção científica e projecta alinhá-los num ranking de irradiação académica, medida esta pelo cúmulo das citações feitas por terceiros da obra científica de cada investigador. Aos alunos pede-lhes o controlo do desempenho dos seus professores, não vão estes abrandar no interesse pelo pedagogismo e pelo didactismo, em benefício da actividade crítica e científica.

Servindo o mercado como único senhor e obedecendo às exigências da competitividade, como se a razão liberal fosse hoje o verdadeiro tribunal que julga da qualidade académica, a Universidade acabou por se descentrar e passou a funcionar sobre eixos de sentido que não são os seus, fazendo da esquizofrenia o seu estado permanente (3).
O insucesso escolar deixou entretanto de ser do aluno e passou a ser da própria instituição, que entendeu negar-se a si mesma. E a Universidade nega-se a si mesma ao organizar consultas regulares para registar a opinião que os alunos têm dos seus professores e dos programas das disciplinas leccionadas. A Universidade nega-se a si mesma, quando por todo o lado e sempre quer é comunicar, quer é escutar, quer é pedagogia e supervisão, esquecendo a sua obrigação de ensinar.

É verdade que a Universidade não promove já suficientemente uma desejada mobilidade social, sendo neste sentido cada vez mais limitado o seu contributo para a democratização do país; é verdade também que o discurso científico é hoje um discurso entre outros, tendo deixado de poder erigir-se em tribunal da razão; é verdade ainda que o ensino superior se mostra incapaz de responder à pressão crescente das exigências sociais (Santos, 1994: 163-201).

Num tempo arredio às imaterialidades, tempo de escassez, sem rocha, cabo ou cais, a Universidade já dificilmente é essa outra linguagem, que desfaz as aparências e nos ilumina. Numa paisagem de ruínas, onde deuses e homens perderam o esplendor, a Universidade é cada vez menos um exercício de memória e uma reserva de afectos. A Universidade tem dificuldade em figurar o sonho e a abertura do mundo.

Tendo perdido a centralidade, a Universidade viu nos últimos anos crescer sobre si a pressão social. E, assarapantada, resigna-se a que os alunos deixem de ser alunos (com a obrigação de aprender) e passem a ser idolatrados como 'juventude'; assarapantada, aceita que a cultura e a investigação se rendam ao culto da tecnologia e do futuro enquanto tais; assarapantada, mobiliza-se atrás de uma ideia equivocada de sucesso.

Quer isto dizer que o ensino se atola no pedagogismo, uma coisa mole, sem 'corpo' real, sem o tempo do 'outro', sem exigência ética; quer isto dizer também que a investigação deposita no mercado e na competicão todas as esperanças de redenção, sucumbindo ao sistema; quer isto dizer ainda que o serviço à comunidade é muitas vezes um mero pragmatismo, uma pressa indecorosa, um fazer sua a convicção generalizada de que temos direito a tudo e de que tudo tem um preço.

E, no entanto, a meu ver, a Universidade não pode ceder; a Universidade não pode resignar-se a que as políticas académicas se confinem a estratégias de gestão e as necessidades do crescimento se acomodem a respostas de carácter exclusivamente tecno-instrumental. É tarefa da Universidade aprender e ensinar a ver, e também aprender e ensinar a pensar. Aprender e ensinar a ver, ou seja: habituar os olhos à calma, à paciência, deixar que as coisas se aproximem de nós; aprender a adiar o juízo, a rodear e a abarcar o caso particular a partir de todos os lados (Nietzsche, 1988: 67). E aprender e ensinar a pensar, quero eu dizer, aprender e ensinar uma técnica, um plano de estudos, uma vontade de mestria, - que o pensar deve ser aprendido como é aprendido o dançar, como uma espécie de dança... (Ibidem: 57-58).

3. O nosso imaginário trágico e a sua melancolia

A razão histórica, nos termos em que foi elaborada pelo Cristianismo, laicizada depois pelo Iluminismo, e reutilizada hoje pela Cibercultura, a razão histórica, dizia, assente nas ideias de continuidade, causalidade e progresso ininterrupto, tornou-se uma "doença" - uma doença que nos impede o acesso à temporalidade, quero dizer, que nos impede a apreensão do mundo como experiência (4).

Esta doença, que Nietzsche já havia diagnosticado na Segunda Intempestiva, tem vindo a acentuar-se com o desenvolvimento dos média. A actualidade, o que está "in actu", têm-na transformado os média em fait-divers. Estéril superfície do novo, o fait-divers define a actualidade de acordo com a ilusão historicista, que faz da história uma perpétua actualização, para a qual temos cada vez menos tempo.

Sobretudo com a explosão da técnica, o nosso tempo acelerou, e nós fomos alienados da nossa condição propriamente histórica. Transformada na presa fácil de uma transcrição ruidosa e incessante, que a nega enquanto quotidiano em que arriscamos a pele, a nossa vida é hoje a imagem de um mundo sem acontecimentos, e só com notícias, um mundo em que cada vez menos se vive, mas tudo se exibe (Guerreiro, 2000: 109) (5)“Crise da experiência”, portanto – foi esse o diagnóstico feito em tempos por Walter Benjamin, e é esse também o diagnóstico feito mais recentemente por Giorgio Agamben (2000: 20). E com efeito, o nosso tempo vive hoje anestesiado, sendo cada vez menor o seu “compromisso com a época e com as ideias que a motivam” (Benjamin, 1993: 490).

Chafurdando sem esperança num quotidiano transformado na sua transcrição mediática, uma transcrição ruidosa e incessante, que o nega enquanto quotidiano em que arriscamos a pele, o nosso tempo parece no entanto viver feliz, reconfortado no regaço das tecnologias, dos média e dos centros comerciais, um regaço que lhe proporciona viagens tranquilas, aventuras sem risco, ao reino da evasão, do exotismo e do fantástico.

A todo o momento são-nos administrados “terror sem horror, comoção sem emoção, compaixão sem paixão” (Teresa Cruz, s.d.: 112), mas a cidade dos homens, que se encontra abismada pelo fantasma da transparência comunicacional, deleita-se nesta calda de emoções, que traveste de uma euforia puxada à manivela a aventura humana. E lá vai gozando o panorama, rendida às telenovelas, aos big brothers, aos masterplans e a outras tão tranquilas quão soporíferas viagens.

Crise da experiência, sem dúvida, e também o trágico como forma do imaginário na era mediática. Invariavelmente, as aberturas dos telejornais estão hoje por conta da tragédia e da catástrofe. Como se um fatum inexplicável cobrisse a cidade dos homens, conduzindo-a por veredas desconhecidas, e uma vontade insondável se sobrepusesse a toda a acção humana, os telejornais começam por dar a voz aos deuses, e só depois se ocupam dos humanos e das suas insignificantes acções: abrem com os acidentes mortais, os actos tresloucados que semeiam sofrimento e morte, os crimes hediondos, que desafiam qualquer racionalidade, os efeitos de uma qualquer catástrofe natural, seja temporal, terramoto ou ciclone.

Dou a palavra ao narrador. Estamos na Páscoa, no equinócio da Primavera. Como sempre acontece nesta quadra, um deus em desvario espalha a devastação pelas estradas do país. O sacerdote, um capitão da Brigada de Trânsito da Guarda Nacional Republicana, em traje de gala, mas com ar compungido, apresenta os números da desolação: desta vez foram 27 os mortos, 84 os feridos graves, 670 os feridos ligeiros. Nenhum Édipo parece capaz de livrar a cidade desta fatalidade, que ciclicamente se repete, não apenas no equinócio da Primavera, mas também no solstício de Inverno, por alturas do Natal, e noutras ocasiões ainda. O sacerdote está a ponto de rasgar as vestes, tamanha é a desgraça, “senhor automobilista, seja prudente, conduza com segurança”. Enquanto isto, tal um coro grego, o fundo do ecrã repete o eterno movimento do mercado financeiro, o perpétuo sobe-e-desce das cotações na bolsa.

O jornal televisivo apresenta-se-nos assim na forma de uma narrativa mítica. O futuro, que o telejornal narra no passado, não parece reservar-nos hoje nenhuma esperança. Só tem sentido falar de esperança quando a um sujeito da história é prometida uma perfeição final. Ou então, quando o próprio sujeito da história se promete a si próprio essa perfeição. Ora, o que se passa no telejornal significa o fim de todas as esperanças. O conteúdo da narrativa não nos dá qualquer ilusão a esse respeito. Se a sua abertura havia sido fabulosa, com a voz dos deuses a ribombar por cima das nossas cabeças, o fecho não ecoa menos fantasticamente. Com novidades que a todo o instante chegam de Delfos, o Tirésias de serviço conta o caso de uma ovelha que nasceu sem quaisquer membros superiores ou inferiores, e logo passa a um outro caso, o de o primeiro clone humano já levar oito semanas de gestação, coisa fabulosa, sem dúvida, como fabuloso já havia sido, aliás, uma mulher ter engravidado aos sessenta e cinco anos - esse é já um outro caso (ou não terá sido sempre o mesmo? Se atendermos ao ensinamento de Vladimir Propp, e também de Algirdas Greimas e de Claude Lévi-Strauss, não parecem restar dúvidas: “o conto é sempre o mesmo”(6). Pelo meio da narrativa televisiva desfilaram, entretanto, revoluções, guerras, crises, deliberações, invenções(7). Exilada da escatologia, e portanto “em sofrimento de finalidade” (Lyotard, 1993: 93), a narrativa televisiva expõe a crise desta época, o seu mal-estar, a sua melancolia.

A acreditarmos no poeta Paul Celan (1996: 46), vários acentos convêm ao tempo: o agudo da actualidade, o grave da historicidade e o circunflexo da eternidade – o circunflexo que é um sinal de expansão. É meu entendimento, no entanto, que o tempo perdeu nos nossos dias todos os seus acentos. A historicidade, o acento grave do tempo, o acento da nossa responsabilidade pelo nosso estado e pelo estado do mundo, é hoje uma “doença”. A actualidade, o acento agudo do tempo, têm-na transformado os média em fait-divers. E depois, o eterno, o acento circunflexo que expande o tempo, é apenas um fragmento mais na enxurrada em que vão, rio abaixo, todos os nomes que nos falavam da invariância de uma presença plena (de um fundamento): essência, substância, sujeito, consciência, existência, Deus, homem, transcendência...A melancolia diz o "mal" deste tempo, um tempo com os acentos em falta, ou seja, um tempo que não é finalizado por nenhum horizonte de redenção. Sofrendo deste mal do tempo, também a Universidade é melancólica. Com o mercado - o mercado financeiro e o mercado de trabalho - a ribombar fantasticamente por cima da sua cabeça, a Universidada chega de trambolhão ao plateau da notícia, sem todavia nos reservar qualquer esperança. A notícia que hoje se agita na Universidade é a da ideologia comercial: as universidades são empresas; a educação são serviços; o ensino e a investigação são oportunidades de negócios; os professores são profissionais de serviços ou consultores; os alunos são clientes. E tudo aquilo que nos é dado a mastigar, qual pastilha elástica simbólica ou gulodice de contrabando, é a promessa de um improvável êxito social: notícia é então a excelência dos cursos e dos professores, medida a excelência com meia dúzia de indicadores de uma pauta fabricada para lisonjear o próprio umbigo; notícia são os índices de procura de uma determinada instituição e as notas de entrada na Universidade; notícia são as taxas de sucesso escolar e de empregabilidade. Eu diria com as palavras cáusticas do poeta Alexandre O'Neill (2001: 261) que, de tanta notícia, é o corrupio da notícia: "Notícia é devoração! Aí vai ela pela goela que há-de engolir tudo e todos! Aí vai ela, lá foi ela! Nem trabalho de moela retém notícia... Notícia sem coração!"

Repito, é o corrupio da notícia, e é também a recitação de um mesmo conto. Já o sabemos, no entanto, toda a narrativa mítica é melancólica, ela apenas levanta voo onde o real está em falta ou abre brechas. Como bem observou Giorgio Agamben (1995), este é um tempo de “meios sem fins”. E por ser um tempo de meios sem fins, nada mais natural que tambémna Universidade, sem esperança, em sofrimento de finalidade.

4. A Universidade no corrupio da notícia

É de corrupio da notícia e de recitação de um mesmo conto que nos fala ainda a aplicação da ideia do marketing ao sistema de ensino. Vemos vingar hoje na Universidade a ideia de apenas colocarmos no mercado produtos com forte probabilidade de serem comprados. Acontece, no entanto, que uma vez convertido o ensino em comércio, os professores, agora reciclados como profissionais de serviços e consultores, ficam subordinados às escolhas e às decisões dos directores comerciais, ou seja, aos directores das Escolas e Faculdades, que são quem centraliza a direcção de um tal comércio. A avaliação do produto, o seu "perfil", é determinado a partir de cima, segundo critérios burocráticos, dependentes das leis do mercado, do comércio e do marketing. Em consequência, são eliminados impiedosamente os projectos de ensino considerados mais "frágeis", aqueles que se destinam a grupos demasiado restritos de consumidores (9). E a mesma coisa se passa com a maior parte dos projectos de investigação fundamental, com aqueles projectos que não respondem exclusivamente a necessidades sociais práticas, nem reflectem apenas a pressa indecorosa de que temos direito a tudo e de que tudo tem um preço. Aliás, as editoras não querem ouvir falar da publicação de projectos de investigação fundamental, receando não ter leitores. E a Fundação para a Ciência e a Tecnologia não lhes é menos hostil, em nome de uma sociedade civil, que por certo não compreenderia o financiamento daquilo que não tem utilidade social (10).

É verdade, há muito que a Universidade passou a ser pensada para alunos médios. E a esta opção estratégica corresponde a ideia de professores igualmente medianos. Talvez radique aí, aliás, a razão da sistemática campanha de desvalorização do pensamento nas instituições de ensino superior. A ideia de índice de produtividade e a permanente chamada ao pedagogismo burocratizam e infantilizam os professores. Uma e outra ideia traduzem uma concepção sensaborona de excelência. Uma e outra não têm a mais pequena grandeza: não têm exigência ética, nem o rosto nem a razão de professores e alunos. O que aí é estimulado são as sensibilidades medianas, que permanecem ligadas a valores tradicionais indiscutíveis, sejam eles éticos, morais, narrativos, pedagógicos e científicos, repetindo até à exaustão aquilo que, sem resistência, é admitido por todos.

Pensado para alunos e professores médios, também na sala de aula o ensino superior se torna, entretanto, melancólico: nenhuma gravidade, nenhuma preocupação pelo estado a que chegamos; uma cada vez mais acentuada impossibilidade para intervir no curso dos acontecimentos; e o pensamento de cócoras, em adejo vão de pássaro desplumado.

Uma aula, hoje, já não é um exercício do olhar. Dificilmente alguma coisa nela exercita os olhos para a calma, dificilmente alguma coisa nela agiliza para um passo de dança. Um aula, hoje, deve contar com marcações regulares, uma espécie de soluços narrativos, com sucessivas rajadas de acetatos e slides. E também pode passar pela conexão a uma espécie de sistema de rega automática, gota-a-gota, com a voz do professor dobrada em fundo pelas imagens de um power point. Nas salas de aula generalizou-se o estilo comercial, num caso o estilo do spot, noutro o do filme de promoção, modos distintos para um mesmo objectivo: a busca da comunicação imediata e a proposta de um sentido à maior velocidade. As aulas não podem, de facto, desmerecer na comparação com o ritmo da comunicação publicitária. Dir-se-ia que exercitar o olhar para a calma e agilizar o pensamento para um ritmo de dança, tornam uma aula lenta, aborrecida, para a qual já não há paciência.

Afunda-se o pensamento, e com ele, é o próprio ideal académico que se afunda. Ou seja, afunda-se a Universidade a golpes de melancolia. Pela minha parte, todavia, gostaria de contrapor à melancolia, a essa sereia estética que se satisfaz em diletantismo descomprometido, o critério ético do desassossego crítico. Ou seja, vejo a Universidade como um lugar de liberdade irrestrita, como o lugar de uma democracia a vir (11). Acima de tudo, a Universidade encarna para mim um princípio de resistência crítica e uma força de dissidência, comandados ambos por aquilo a que Jacques Derrida (2001: 21) chama «uma justiça do pensamento». Penso que é essa, aliás, a missão da Universidade. Cabe-lhe, como finalidade última, a salvaguarda das possibilidades da (a)ventura do pensamento, ou seja, cabe-lhe fazer do ensino e da ciência uma ideia, sem a qual o presente é uma pura forma de onde se ausentou toda a potência.

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Notas

1. É de François Lyotard (1993: 90) a ideia de que o imaginário moderno da historicidade é comandado pelo princípio escatológico.

2. Retomando uma clássica formulação de Karl Lövith em O Sentido da História, Michel Maffesoli identifica a história da modernidade com a história do cristianismo e remete para Santo Agostinho a origem do pensamento escatológico (Maffesoli, 1998: 39-40, p. ex.). Penso, no entanto, que as formas escatológicas, as formas utópicas e esperançosas, projectadas pela Cidade de Deus, prolongam uma tradição que se inicia três séculos antes com Paulo de Tarso (o São Paulo do Novo Testamento), uma tradição que compatibiliza a tradição clássica pagã com a escatologia cristã.

3. No Relatório que o Collège de France elaborou em 1985, a pedido do Presidente da República Francesa, com “propostas para o ensino do futuro”, é expressamente dito: «O ensino deveria mobilizar todos os meios de combater a visão monista da ‘inteligência’, que leva a hierarquizar as diferentes formas de realização das capacidades em relação a uma delas, devendo assim multiplicar as formas de excelência cultural socialmente reconhecidas» (Collège de France/Pierre Bourdieu, 1987: 105).

4. A modernidade, que Nietzsche configura como “doença histórica” e como época em que nada chega à “maturidade”, inspira o tema de Benjamin sobre a modernidade como época do declínio da experiência. Cf., por exemplo, Benjamin (1992: 28): “a experiência está em crise e assim continuará indefinidamente”.

5. Nas palavras de Benjamin (1992: 34): “quase nada do que acontece é favorável à narrativa e quase tudo à informação”.

6. Veja-se, neste sentido, Jean-Claude Coquet, “Linguistique et Sémiologie” (1987: 10-11).

7. As notícias referidas foram dadas nos telejornais da RTP, canal 1, na semana da Páscoa de 2002 (de 31 de Março a seis de Abril).

8. Esta frase é uma glosa a um excerto do texto de Derrida, L’Écriture de la Différence (1967: 410-411).

9. Será que diante do «novo paradigma da democratização e massificação» do ensino superior, só nos resta sujeitarmo-nos às palavras de ordem «just in time» e «just for you», que definitivamente se impõem à lógica do «just in case»? Partindo do princípio de que «muitos conteúdos cognitivos transmitidos [pela Escola] se revelam desnecessários ao longo de toda a carreira profissional dos graduados» (e seria essa a lógica do «just in case»), a única coisa que doravante importaria fazer seria «oferecer aos formandos programas educacionais» que correspondessem «às suas reais necessidades pessoais e profissionais no momento de formação». E uma vez adoptada a ideia do «just in time», cumprir-se-ia, naturalmente, a lógica do «just for you», ou seja, os estudantes poderiam, nestas circunstâncias, «seleccionar, de forma criteriosa, os percursos de formação» que melhor se ajustassem às suas apetências e capaciadades. Veja-se, neste sentido, Sérgio Machado dos Santos (2000 e 2001).

10. No último capítulo de Tempos Cruzados. Um Estudo Interpretativo da Cultura Popular, espécie de posfácio a um livro que constitui a sua dissertação de doutoramento, Augusto Santos Silva (1994) fala dos condicionalismos institucionais que marcaram a elaboração da sua tese. O seu testemunho não deixa dúvidas sobre as linhas com que, de um modo geral, se cose a instituição que entre nós tutela a ciência e a investigação. Santos Silva reporta-se a um período de tempo que se estende de 1987 a 1991 e diz o seguinte: “A conjuntura institucional em que trabalhei foi crescentemente marcada [...] pelo menosprezo pela investigação nas ciências sociais e humanas, como em geral, pela investigação fundamental”, que na miopia dominante é inaplicável (Santos Silva, 1994: 532). É também entendimento meu que «o nosso trabalho merece mais do que a espécie de mendicidade sofisticada a que nos condenam» (Ibidem: 531). Mas receio bem que seja nossa sina, hoje em dia, bramar contra portas que definitivamente vemos serem-nos fechadas.

11. Gloso neste ponto a tese de Jacques Derrida (2001), proposta num ensaio recente, significativamente intitutlado: L’Université sans Condition.