Friday, April 14, 2006

Primeira entrevista na imprensa regional

Parte II
Houve ganhos de racionalidade interna
UM viu a sua expressão pública diminuir em quatro anos

CM: Quando decidiu apresentar a sua candidatura?

MM: Muito recentemente. Decidi depois da última reunião do Senado, quando se concluiu o grande processo que é a reconversão da UM ao Processo de Bolonha. Aí é que se notou uma completa ausência de estratégia colectiva, um completo afastamento desta reitoria da Academia. O afastamento da sua obrigação de conduzir a Academia. A reitoria não patrocinou um debate com as escolas. A ideia que esta reitoria pudesse ter sobre Bolonha teria que ser debatida com as escolas e assumida com as escolas. Isso não foi feito. Não tendo sido isso feito, significava que cada escola conduziria, nos termos que bem lhe parecesse, a estratégia que bem entendesse. A reitoria propôs a criação de uma “task-force” no Conselho Académico com um elemento de cada escola. Logo no Conselho de Escola eu intervim para dizer que era necessário que a reitoria tivesse um vice-reitor nessa “task-force”. Não foi nada disso que se fez. O vice-presidente do Conselho Académico, que não faz parte da reitoria, conduziu com os representantes das escolas o processo de Bolonha fora da órbita da reitoria. Quando se chegou ao Conselho Académico, a reitoria fez vencer a sua voz de uma maneira completamente arbitrária. Pode-se dizer que foi votada a decisão do reitor. Aí está: quanto mais alargado é um órgão, mais irresponsável ele é. O reitor foi ao Conselho Académico impor uma ordem de trabalhos. Aquilo que estava na agenda passaria, com mais voto contra ou mais abstenção.

CM: Mas o que é que está mal nesta adaptação da UM a Bolonha?

MM: Bolonha significa a construção de um espaço comum na Europa para o Ensino Superior. Bolonha é a articulação de três ciclos de estudos: licenciatura, mestrado e doutoramento. As boas universidades devem ter os três ciclos. Bolonha é sobretudo uma alteração das práticas pedagógicas. As escolas não foram chamadas para este debate e as propostas aprovadas diria que quase nada têm a ver com a cultura de Bolonha, são afunilamentos. Esta discussão estava envenenada pela circunstância de se ligar isto ao financiamento. Claro que cursos de cinco anos que passam para três ou quatro não precisarão de ter tantos professores, é um benefício para o Ministério porque passa a pagar menos. Porque é que os reitores não tomaram posição pública sobre a necessidade de financiamento a dois ciclos? Desenvolve-se de há uns anos a esta parte a ideologia social de que há áreas académicas de importância social superior.

CM: Por isso defende que as escolas devem estar todas no mesmo plano e que não deve haver prioridades académicas e sociais?

MM: Digo isso porque há a definição, que já vem de governos anteriores, de áreas estratégicas. De uma maneira geral, as ciências e as tecnologias, o que quer dizer as engenharias e algumas ciências naturais.

CM: Essa ideologia também se verifica na Universidade do Minho?

MM: Sim. Que um qualquer governo possa definir essas políticas, eu entendo. Um académico só pode contrariar isto. Um académico tem que ter esta ideia: as áreas científicas são todas prioritárias, têm todas a mesma dignidade e a mesma importância social. Há muita coisa no Processo de Bolonha que está mal. Os reitores alhearam-se das suas responsabilidades ao não terem tomado uma posição no sentido de dizerem que o 1º e o 2º ciclos têm que ser financiados. De há anos a esta parte, o Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP) está esvaziado, não tem uma política que se afirme diante da tutela. Não afirma nada de útil como ideia geral das universidades. O CRUP não existe publicamente. As universidades não têm uma voz colectiva. O CRUP não ajuda a tutela a fazer políticas. Um reitor como o nosso caiu como mel na sopa daqueles que pensam que uma política de esvaziamento do CRUP é coisa boa.

CM: Com Bolonha, a área das Ciências Sociais fica com um nível de prioridades ainda mais baixo?

MM: Não diria isso. Isto não é uma candidatura das Ciências Sociais à reitoria da UM.

CM: Não é uma luta das Ciências Sociais contra os engenheiros?

MM: Nada disso. Esta é uma luta que qualquer engenheiro pode compreender, qualquer homem das ciências da natureza pode compreender. Vai ver, em devido tempo, como isto é assim mesmo. Isto é uma ideia de Academia, de centralidade académica. A Academia tem de ter um projecto que exprima a diversidade das suas escolas.

CM: A ausência desse projecto reflecte-se em quê? Em termos de financiamento?

MM: Naturalmente. Progrediu-se muito com este reitor no que diz respeito à operacionalidade de uma máquina, fizeram-se progressos enormes em termos administrativos. Mas qualquer progresso, se não se ganham as pessoas, é um progresso equivocado. Houve uma medida que foi a medida biométrica da assiduidade dos funcionários. Eu diria que é uma grande medida, mas que teve um péssimo acolhimento entre os funcionários. Uma organização tem de ser estimulada e sentir isto como uma coisa sua, mas anda-se sempre de ombros caídos porque submetidos a ordens. Acontece com os órgãos das escolas, com os funcionários e também com o processo de Bolonha, com os alunos. Por exemplo, a transição para Bolonha. A lei obriga que ciclo antigo e o novo modelo só possam coexistir num máximo de dois anos. Ora, a UM não se preparou para isso. Há um grande descontentamento entre os alunos. A transição tem que se fazer sempre em benefício dos alunos. Esse assunto não foi suficientemente cuidado porque a ideia de não aprovar segundos ciclos é mutilante para as escolas que os apresentaram. Na medida em que se puseram a funcionar primeiros ciclos, politecnicizou-se a Universidade, menos as Engenharias e a Arquitectura, que ficaram com 1º e 2º ciclos que eles chamam integrados. Não entendo por que é que a reitoria não fez esta prática com toda a Universidade.

CM: No caso da sua Escola, a reitoria não aceitou sugestões?

MM: Não queria falar da minha Escola, porque este não é um assunto meu, é um assunto da Academia. Este não foi um problema que recaiu exclusivamente sobre as Ciências Sociais.

CM: Caso seja eleito, pensa ser possível reverter o Processo de Bolonha?

MM: Naturalmente, Bolonha é um processo cumprido em 2010. Não temos muita margem porque já perdemos muito tempo. E sabe que uma coisa que nasce mal é ruim de consertar. Em todo o caso, com alunos e professores, haverá que encontrar as soluções que, de alguma maneira, abram a UM a Bolonha. Não de uma forma reactiva, porque o debate sobre Bolonha está um pouco envenenado por causa do financiamento.

CM: Mas as universidades não estão presas a essa questão?

MM: Mas o CRUP tem que ter uma voz, mas uma voz que se faz da voz dos seus elementos. Eu nunca ouvi este reitor com uma posição política forte. Em quatro anos, a UM ganhou racionalidade interna e viu a sua expressão pública diminuir. Junto da tutela, a UM perdeu força e influência, não se soube afirmar.

(continua...)

Texto: José Paulo Silva
Fotos: Rosa Santos

(publicado na edição de 13 de Abril do "Correio do Minho" - página 6)

1 Comments:

At 10:16 AM, Anonymous Anonymous said...

GANHAR AS PESSOAS!
NÃO HÁ NADA DE MAIS VITAL NO PRESENTE COM VISTA AO FUTURO DA UM.
O QUE DIZ PROFESSOR MOISÉS É CREDÍVEL E NÃO APENAS CAMPANHA, PORQUE O SEU CARÁCTER, A SUA DIEMSNÃO ÉTICA FAZEM-NOS ACREDITAR QUE FARÁ PELA UM O QUE DIZ SER NECESSÁRIO FAZER.
BEM HAJA!

 

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