Thursday, May 04, 2006

Discurso na apresentação da equipa - Guimarães

Intervenção de Moisés de Lemos Martins na sessão de apresentação da equipa, proferida no Campus de Azurém, em Guimarães:

"Caros docentes, funcionários e alunos,

Hoje todos sabemos o que é uma Academia triste, medrosa e de voz acorrentada. Deu nisto o programa que nos últimos quatro anos nos instalou no fechamento de uma cultura autoritária, no conformismo de uma educação para a passividade e no ensimesmamento de práticas de mera eficiência administrativa.
É necessário contrariar esta deriva autoritária da Universidade. É necessário contrariar o conformismo desta educação para a passividade. É necessário contrariar esta tecnocracia sem alma. É necessário uma Universidade com futuro.
A cultura do medo empobrece a Academia e constitui uma falência pedagógica. Como é possível tomar a cultura do medo por um “estímulo empolgante” e agradecer o “zelo tutelar” daqueles que a promovem? Como é possível ver “irreverência juvenil” na deriva autoritária que nos amortalha em silêncio? Como é possível ver “invenção do futuro” numa Academia acossada, aflita e empobrecida, numa Academia de silêncio, com os órgãos académicos em défice democrático, onde o debate não passa de um simulacro de exercício de cidadania?
Ninguém devolve a “alma à instituição” nem levanta uma “universidade sem muros” através de um aparelho de quebrar vontades, de um sistema de controlo e vigilância e de engrenagens de propaganda.
A minha candidatura à Reitoria é a voz que se ergue contra esta Universidade equivocada e desorbitada, é a voz que ergue contra esta Universidade de ombros caídos. A minha candidatura à Reitoria é a voz que se levanta por uma Universidade com futuro.
Vou apresentar hoje à Academia a equipa que comigo se ergue para recolocar a Universidade no caminho da sua centralidade académica, a de uma comunidade de professores, funcionários e alunos, que tem na excelência dos seus projectos pedagógicos e científicos os principais eixos da sua missão e da sua tarefa.
Bem sei que é de mudança o tempo que vivemos. E sei também que o sonho universitário de uma sociedade do conhecimento ganhou nos nossos dias um impulso novo, com os enormes avanços das ciências e a sua projecção tecnológica.
Nas actuais condições de uma cultura científica que se revê na figura da comunicação generalizada, tem procurado a Europa reconfigurar o seu futuro universitário num espaço comum. Um tal espaço deve promover a mobilidade de estudantes e professores e concretizar uma efectiva cooperação académica à escala europeia, com estratégias de ensino e de investigação que estabeleçam parcerias de formação conjunta e se traduzam na realização de programas europeus de mestrado e doutoramento e na concessão de diplomas internacionais, certificados e reconhecidos por mais do que uma universidade.

A Universidade do Minho não pode deixar de ser uma protagonista maior desse espaço. E esta candidatura faz desse desiderato um objectivo principal. Sabemos, entretanto, que a memória que colectivamente partilhamos como cidadãos na região atlântica do Norte de Portugal e da Galiza constitui para nós um ancoradouro e uma força. Mas sabemos, também, que não podemos amarrar o sonho à reprodução dos modelos culturais do passado, quando já parecem esvaídos os modelos de ensino e a estrutura curricular tradicionais.
Como em todas as épocas, a Universidade do Minho é hoje convocada à arte de Penélope, à Sabedoria. Cosendo a paciência antiga com as nossas impacientes chegadas, o caminho que precisamos de seguir terá que ser o de uma formação polivalente e interdisciplinar, uma formação que privilegie a inovação e a flexibilidade e respeite, do mesmo modo, exigências de qualidade. A Universidade do Minho não pode deixar de responder, com efeito, à sua função social. E não o podendo deixar de fazer, a Universidade do Minho terá que desenvolver nos jovens as competências necessárias ao desempenho profissional, assim como as competências para a invenção das novas profissões que se desenham.
Somos uma grande Academia. E uma grande Academia não pode deixar, igualmente, de intervir no presente, fazendo obra de cultura. Cumprindo a sua vocação, a Universidade do Minho não pode deixar de retraçar hoje a sua história, de reformular as suas funções e de experimentar novas articulações. Na hora de uma Europa unificada, precisamos de conhecer, mais do que nunca, o que nos identifica e o que nos distingue. Sabemos que o processo de globalização sócio-económica que assinala o nosso tempo não colide com a percepção e o estudo das identidades nacionais, regionais e locais. Aliás, estamos convencidos de que este processo aconselha mesmo o reforço da sua análise, numa base que há-de ser simultaneamente de diferenciação e de abrangência. O crescimento económico e tecnológico não pode dispensar, pois, o desenvolvimento cultural.

Na era da imparável globalização da Economia e dos mercados, pela potência da tecnologia, penso que faz todo o sentido falar de um sonho de refundação da Universidade. Mas um sonho destes na nossa Universidade não pode confinar-se à região atlântica do Norte de Portugal e da Galiza. Temos a fundura das raízes, entretecidas por uma passado comum, que dão corpo às culturas lusófonas e se exprime pelo vasto mundo dos países da CPLP e dos PALOP. Temos ainda uma outra área cultural de privilégio, que é o mundo que com a Espanha partilhamos, o mundo latino-americano. Todas estas orientações estratégicas não podem deixar de ter presente uma preocupação com o desenvolvimento harmonioso, a solidariedade humana e a coesão social, quer da euro-região a que pertencemos, quer no país que é o nosso. O são convívio das ciências, que devemos praticar na diferença da sua diversidade solidária, não pode, deste modo, deixar de ser parte inteira no desenvolvimento da euro-região do Norte de Portugal e da Galiza, assim como não pode deixar de ser parte inteira no desenvolvimento do país.

Caros docentes, funcionários e alunos, seguindo estas linhas orientadoras, passo a indicar a equipa que me acompanha nesta candidatura:

- Para Vice-Reitor no Campus de Azurém, com a responsabilidade também da ligação à envolvente regional e empresarial da Universidade, o Professor António Pousada, Professor Catedrático da Escola de Engenharia;
- Para Vice-Reitor dos assuntos académicas, o Professor Catedrático Óscar Gonçalves, do Instituto de Educação e Psicologia;
- Para Vice-Reitor com a responsabilidade da investigação científica e tecnológica, o Professor Catedrático José Borges de Almeida, da Escola de Ciências;
- Para Vice-Reitor dos Recursos Humanos e Financeiros, a Professora Catedrática Margarida Proença de Almeida, da Escola de Economia e Gestão;
- Para Pró-Reitor das Novas Tecnologias da Informação, com a responsabilidade de reconfigurar os sistemas e serviços de informação e comunicação na Universidade, o Professor Catedrático Alberto Proença, da Escola de Engenharia;
- Para Pró-Reitor dos Estudantes, com a responsabilidade, designadamente, de se ocupar da sua integração e bem-estar nos campi; de acompanhar o seu percurso académico e também a sua formação extra-curricular; de mediar o processo de transição para Bolonha e de promover o associativismo académico nos domínios cultural, desportivo e recreativo, o Professor Associado com Agregação Pedro Oliveira, da Escola de Engenharia.
- Para Pró-Reitor da Cultura e das Artes, o Professor Associado Manuel Sarmento, do Instituto de Estudos da Criança.
Caros docentes, funcionários e alunos, é esta a equipa que se ergue diante da Academia por uma Universidade com futuro".

1 Comments:

At 2:37 PM, Anonymous Anonymous said...

Caro Professor Moisés Martins;
Só a esta hora pude -apesar de estar atento- consultar e "ler" o discurso que hoje proferiu em Guimarães. Contínua a ser marcante pela excelência. Na elucidação (infelizmente pela negativa) dos medos e receitos, das falências pedagógicas e científicas, da cultura autoritária e da VOZ ACORRENTADA, com que toda a Nossa Academia tem vivido criminalmente atrofiada nos últimos quatros anos da já MORIBUNDA GESTÃO DO PROFESSOR GUIMARÃES RODRIGUES.
Tem sido com o mais triste e prundo dos sentimentos que tenho (embora pouco) escrito no Blog que V. Exª entendeu po bem colocar à disposição das VOZES CALADAS desta Nossa Comunidade Académica.

Este meio de comunicação que muito Bem-Haja, significa para mim, e creio que para muitos dos Alunos, funcionários docentes e não docentes um LUFADA DE AR FRESCO retirada UM AMBIENTE DE CORTAR Á FACA!
Lamento imenso não poder identicar-me pelas razões subejamente conhecidas, sendo certo que V. Exª me conheceu numa tarde, vésperas de Páscoa (bem perto do Largo do Paço. Seja como for, não posso deixar de agradecer o quanto tem sido bom este serpentear de comunicação e levado BEM ALTO e COLOCADO O SEU NOME NA "Praça Pública" obviamente pela positiva!
UM ABRAÇO DE UM CADASTRADO!

 

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