Os campi como lugar de encontro e de acolhimento
Por José Miguel Braga *
A animação dos campi universitários é um facto que resulta em parte da natureza. Seria difícil imaginar uma universidade onde nada acontecesse…
Mas pode-se animar mais e melhor.
Para levar a bom termo este propósito é necessário pensar a cultura universitária e encontrar soluções para ajudar a organizar e a produzir e a dar a ver e a fruir a cultura, as artes e as ciências.
A universidade é livre pois vive num lugar do saber e do ser. Mas essa liberdade só acontece, se criarmos condições que favoreçam a sua expressão na vida pública.
É evidente que estas mudanças não se decretam e é bem sabido que o povo só obedece quando quer. Mas vale a pena lançar o aviso: os campi universitários precisam da cultura viva, do debate e das reuniões, das teses e dos ensaios, das invenções e dos colóquios, de prémios e de cerimónias, das revistas… Precisam das tunas, do coro e do coral, do cineclube, dos concertos, dos recitais, do teatro universitário e da rádio universitária, dos jornais da universidade, de festas… E também do cinema ao ar livre, no Verão, das visitas das escolas, das performances. E de um espaço digno para espectáculos.
Em termos concretos, facilitar de imediato a utilização dos anfiteatros para efeito de ensaio e de acontecimento público, estudar e diligenciar para que se encontrem também espaços ao ar livre, parecem-nos boas medidas. Neste sentido, entende-se que a universidade não deve ser gerida como uma empresa que vive e prospera dos lucros pecuniários. A Universidade é uma casa da cidadania, da liberdade e da igualdade.
E não esqueçamos que chegou o momento de planear a utilidade pública de alguns espaços dos campi durante o período nocturno, em horário a definir.
É necessário desburocratizar e responsabilizar mais a comunidade e cada um de nós. Muito pode mudar se quisermos. Os nossos campi devem ser um lugar de encontro e um lugar de acolhimento. Neles convivem as línguas e as culturas dos povos. Mas a tudo isto teremos de dar visibilidade; por isso, informar, mostrar, expor-se, darmo-nos a ver, são objectivos para concretizar a curto prazo.
Chegou também a altura de a universidade mostrar a música, o teatro e a dança que são criados na sua casa e com esta oferta estar mais presente nas cidades. Por isso queremos apoiar mais e melhor as unidades culturais da universidade e é claro que não nos estamos a esquecer de nenhum grupo artístico ou associação cultural desta Universidade do Minho.
É sabido que os museus e as bibliotecas muito têm trabalhado e, por vezes, à beira da grande privação. O mesmo se passa com a rádio, se tem passado com os jornais, e continua a passar-se com o teatro, a música e todas as artes. Lembremos também os autores que procuram publicar os seus textos e desenhos ou mostrar as suas obras numa sala adequada.
É altura de parar para pensar.
A universidade estará mais próxima da vida das cidades se abrir os seus espaços ao público. Ao mesmo tempo, a universidade integra-se nos espaços da cidade e participa.
Acreditamos que, deste modo, poderá haver mais esperança no futuro.
(*) Docente da UM e actor
2 Comments:
O texto do José Miguel Braga toca num ponto importante que é o da relação da UM com o meio envolvente. Ainda que a UM não deva ser agente político, é lamentável a falta de penetração dos professores da universidade na sociedade civil de Braga e Guimarães, onde quase não se fazem notar. Não se fazem notar nas artes, na política, na cultura, na reflexão estratégica, na dimanização cívica, o que não pode deixar de ter a ver com a frágil cultura cívica e democrática da universidade e das suas lideranças. Há excepções a este deserto, claro. Mas não são mais que excepções,que não reflectem uma cultura universitária mas antes uma vitalidade individual. Não deixa de ser triste que a verdadeira influência da UM na região seja exclusivamente económica, e quase nada social e cultural. A mudança, lenta, embora, também tem que passar por aqui.
A única excepção que se conhece nesta Universidade em relação a um bem cultural, fora o Museu Nogueira da Silva, é a recente criação da Orquestra de Câmara do Minho.
Um fruto que nasce mais da força e do empenho pessoal de Elisa Lessa do que de uma política cultural da universidade, que poderia continuar a ser diferente no panorama universitário português.
É pena que os apoios sejam tão escassos e tão "suados".
Espero, sinceramente, que as coisas mudem, caso esta candidatura ganhe. O que é o meu desejo.
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